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VINHO E PANDEMIA, PANDEMIA E VINHO

08 set 2020, Posted by degustadoresfronte in Notícias e Artigos

Nestes tristes tempos de confinamento a que nos sujeitou o novo coronavírus, impondo-nos uma série de limitações, o brasileiro descobriu no vinho uma válvula de escape. Sem poder viajar nem se locomover livremente, encarcerados em suas casas, beber um bom vinho ao lado da família, falar um pouco sobre ele e imaginar como ele se comportará ao lado do caprichado prato do jantar é um bom entretenimento. Vale também para socializar um pouco, ligar para um amigo (ou grupo de amigos) para comentar as suas impressões. Alguns – como eu – organizam degustações virtuais via internet para não só degustar em conjunto, mas também “jogar um pouco de conversa fora” e fazer com que essa bebida muitas vezes milenar cumpra o seu histórico papel cultural de aproximar as pessoas, torná-las mais humanas.

Pois saibam que os brasileiros têm feito isso como nunca, e o consumo tupiniquim, até então extremamente modesto – pouco mais de 2,5 litros per capita por ano —, tem experimentado um expressivo aumento. Nesse panorama de dólar nas nuvens, os vinhos brasileiros foram, sem dúvida, os que mais se beneficiaram.

No entanto, nos principais países produtores europeus o panorama é bem outro. A crise da covid-19 vem pegando pesado. Países como a França são um bom exemplo. Acostumados a consumir vinho no seu dia a dia principalmente em restaurantes, o país viu o consumo baixar dramaticamente. Além disso, não há mais eventos e festas, em que o vinho era servido generosamente. Isso atingiu todos os produtores do país, mas mais fortemente os produtores de champagne, que enfrentam uma crise jamais vista.

A saída, para evitar a quebradeira geral, foi o governo comprar esses vinhos a granel (pagando 1 euro por litro!) para destilá-los e transformá-los em álcool líquido ou em gel e utilizá-lo apenas para “uso externo”. Snif, snif, realmente uma grande pena! Some-se a isso a sobretaxa de 25% imposta aos vinhos gauleses pelo arqui-inimigo da França e da cultura, Donald Trump, fazendo minguar o consumo desses vinhos nos EUA, e temos aí a tempestade perfeita. Produtores e grandes vinhos de nomes consagrados não têm sentido tanto, mas a imensa leva de pequenos produtores comem agora o pão que o diabo amassou, que não desce nada bem, mesmo com vinho…

Como assinalamos, a prestigiosa região onde se produzem as melhores borbulhas mundo, a Champagne, está mais triste do que nunca. Seus vinhos magníficos são sinônimo de festa e comemorações, tudo o que não vem acontecendo por aí. As caves estão abarrotadas, e deixarão de ser vendidas 100 milhões de garrafas desse delicioso néctar neste ano. Mas se enganam aqueles que imaginam que sobrará champagne no mercado ou que seu preço baixará.

Champagne é uma bebida de luxo e os franceses são mestres em marketing dessa área. Tiveram uma luta muito grande por anos e anos para criar essa imagem de seu produto e não estão dispostos a perdê-la. O Comitê de Champagne, que cuida do assunto, agiu com mão de ferro. Estabeleceu um limite máximo de produção de 8 mil quilos de uva por hectare de vinhedo. O excedente virará álcool em gel ou parará no lixo. Assim, a produção desse ano será de 70 milhões de garrafas inferior à da safra do ano anterior. Mas os preços serão mantidos.

Felizmente poderemos afogar nossas mágoas em taças dos cada vez melhores espumantes brasileiros.

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