LYON: COMENDO E BEBENDO SEM FRONTEIRAS
16 ago 2016, Posted by Notícias e Artigos inAGUINALDO ZACKIA ALBERT
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As viagens de enoturismo que venho organizando nos últimos vinte anos, através de meu site www.degustadoresemfronteiras.com.br, têm me levado a lugares fascinantes, onde as delícias do vinho se mesclam à boa comida, hotéis de charme e passeios interessantes. Gostaria de passar aos caros leitores de nosso site um pouco dessas experiências , pois acredito que possam ser úteis em futuras viagens.
LYON
Quando o tema é bom vinho e comida de excelência, a primeira cidade que nos ocorre é Lyon, capital gastronômica do país símbolo da boa mesa. Fundada pelos romanos há mais de 2 000 anos às margens dos rios Rhône e Saône, Lyon é hoje a segunda maior cidade francesa e dona de um apreciável patrimônio cultural, com seus museus e suas belas construções renascentistas.
Lyon se localiza num ponto estratégico para os amantes do vinho. Ao norte da cidade encontramos a belíssima região do Beaujolais. Se quiser andar um pouco mais, chega-se ao coração da Borgonha, Beaune. Rumando para o sul, é também o ponto de partida para aqueles que quiserem visitar o Vale do Rhône, terra de vinhos esplêndidos.
O BEAUJOLAIS
A belíssima região do Beaujolais fica bem próxima de Lyon e pode ser visitada com facilidade. Em termos administrativos, o Beaujolais faz parte da grande Borgonha mas a afinidade termina aí, pois se formos analisar seu clima, topografia, tipos de solo e variedade de uvas plantadas as diferenças são grandeS. Sua produção é bem maior do que a de todo o resto da Borgonha somado, mais de um milhão de hectolitros provenientes de 22 000 hectares de vinhedos. A uva tinta Gamay reina ali de forma soberana, embora haja uma minúscula produção de vinhos brancos à base de Chardonnay. Seus vinhos são leves, frutados e muito agradáveis, parceiros ideais para os pratos lioneses.
A complexidade deles varia, dependendo de suas subregiões de origem. O Beaujolais Noveau, fruto de fermentação carbônica e de vida curtíssima, é o menos prestigiado.Acima dele vamos encontrar o Beaujolais , denominação básica e mais comum; o Beaujolais Supérieur, um pouco mais encorpado; o Beaujolais-Villages , produzido nas colinas ao norte, originário de uma cidade ou comuna. Tem maior estrutura e corpo; e, finalmente, os Crus de Beaujolais, seus melhores vinhos. Levam no rótulo 10 denominações possíveis. Do norte para o sul: Saint-Amour, Juliénas, Chénas, Moulin-à-vent, Fleurie, Chiroubles, Morgon, Regnié, BrouLly e Côte de Broully. O enófilo mais exigente poderá encontrar muito bons vinhos nas categorias Beaujolais Villages e Cru de Beaujolais.
O VALE DO RHÔNE
O rio Rhône (ou Ródano, na tradução portuguesa) é um dos mais importantes “rios de vinho” do mundo. Desde seu nascedouro, nos Alpes suíços, até o seu delta, no mar Mediterrâneo, esse grande rio bordeja várias regiões vitivinícolas bastante diversas entre si como o Valais suíço, famoso por seu Fendant du Valais, a Savóia francesa, que produz em Seyssel leves vinhos espumantes, e, bem mais ao sul, Châteauneuf-du-Pape, notável por seus tintos potentes e encorpados.
No entanto, quando falamos em Vale do Rhône (Vallée du Rhône) ou Encostas do Rhône (Côtes du Rhône) entamos nos referindo à sua parte francesa mais famosa, que se inicia ao norte , em Vienne, e termina ao sul, nas proximidades de Avignon.
Tudo indica que foram os romanos que introduziram a vitivinicultura na região por volta do século I antes de Cristo. Em sua “História Natural” (ano 71 d.C.) o célebre escritor romano Plínio já faz referência e até mesmo elogia os vinhos produzidos perto de Vienne. Hoje o Vale do Rhône é o segundo mais extenso vinhedo produtor de vinhos finos da França, perdendo apenas para Bordeaux. Região de grandes contrastes, costuma-se dividir o vale em duas regiões que possuem climas, solos, terroirs e castas de uvas diversas: o Vale do Rhône Setentrional e o Vale do Rhône Meridional.
VALE DO RHÔNE SETENTRIONAL
Quem se hospedar em Lyon pode visitar sem muito esforço essa regiâo devido à proximidade. Alí predominam as uvas Syrah (tinta) e as brancas Viognier, Marsanne e Roussane, e se produzem os vinhos mais finos e elegantes do Rhône. Seus vinhos são mais populares entre os connaisseurs do que entre o grande público consumidor, que tem o Châteauneuf-du-Pape – a mais famosa denominação do sul do Rhône — sempre em sua memória como grande ícone. Tal fato se explica pela pequena produção do Rhône setentrional, inferior mesmo à do Châteauneuf-du-Pape, que é apenas uma das denominações de origem do Sul do Rhône.
O clima da região é do tipo Continental, com invernos frios e verões bem quentes. É consideravelmente mais fresco do que o da região meridional, sendo temperado pela constante neblina das manhãs. Os vinhedos são plantados pequenos espaços, nas escarpadas e estreitas encostas de solo granítico.
A região tem oito crus de alta reputação, que são os seguintes vinhos AOC (Appellation d’Origine Controllé) . Vindo do norte para o sul temos: Côte-Rôtie, Condrieu, Château-Grillet, Saint-Joseph, Hermitage, Crozes-Hermitage, Cornas e Saint-Peray.
VALE DO RHÔNE MERIDIONAL
Na sua parte sul, o Vale do Rhône se alarga e as encostas se mostram mais suaves. Pode-se ver as pequenas colinas se estendendo ao longo do grande rio cobertas de vinhedos, um terreno bem mais acessível do que as escarpas do norte. O clima é mais quente, do tipo Mediterrâneo, e os vinhedos sofrem grande influência do mar. Tempestades e chuvas fortes não são incomuns na região. Vindo do Mediterrâneo, o vento Mistral tem importante papel no caráter do terroir da região.
A variedade de uvas que encontramos aqui é muito maior do que a do norte. São em seu total vinte e três, sendo que, só na denominação Châteauneuf-du-Pape, são autorizadas treze. SE no norte tínhamos apenas a Syrah, no sul, predomina a Grenache, existem também a Cinsault, a Mourvèdre, a própria Syarh e várias outras. As principais uvas brancas são a Viognier, a Marsanne, a Roussanne, a Clairette e a Bourboulenc. Com elas são produzidos tintos, brancos e rosés.
Seguem as principais denominações de Origem Controlada: Côtes-du-Rhône, Côtes-du-Rhône Villages, Châteauneuf-du-Pape, Gigondas, Vacqueyras, Beaumes de Venise e Rasteau.
À MESA EM LYON
Ao contrário do que ocorre em Paris, é muito difícil sair de uma mesa lionesa insatisfeito. Cruzando a pé as ruelas de paralelepípedos da velha Lyon, antiga área restaurada da cidade, o visitante encontrará os famosos “bouchons” (bistrôs típicos) , onde é servida a rústica e saborosa comida regional a bons preços. São lugares alegres e descontraídos para se comer bem sem gastar muito. O Daniel et Denise(156, r. Créqui , www.daniel-et-denise.fr ), um simpático bistrô de ambiente descontraído, serve deliciosos pratos típico e tem bons vinhos regionais em sua carta.
Les Halles de Lyon
A sensação que o bom gastrônomo tem a o chegar ao Les Halles de Lyon(mercadão central) é a de que morreu e acordou no céu. Nessa “Disneylândia para adultos” pode-se encontrar de tudo: mercearias refinadas, pâtisseries, lojas de vinhos, restaurantes, peixarias, frutarias, bares de tapas, lugares para se degustar ostras acompanhadas de bons vinhos,chocolatiers, etc. Em homenagem ao maior nome da gastronomia francesa, o mercado ostenta, merecidamente, o nome de HALLES PAUL BOCUSE. Ali mesmo no Halles, se estiver com tempo sobrando, participe de um Cooking Class com o chef Philippe Lechat ( www.philippelechat.com ). Depois você pode almoçar o prato que você mesmo fez. Eu fiz o programa e sai satisfeito. O Halles Paul Bocuse (www.hallespaulbocuse.lyon.fr ) abre das 07:00 às 22:30, não abre às quinta-feiras e no domingo fecha às 14:30 .
Paul Bocuse, o grande mestre
Ir a Lyon sem visitar o mítico restaurante de Paul Bocuse (www.bocuse.fr ) é como ir a Roma e não ver o Papa. Ainda que com seus 85 anos de idade (ou até mais) Monsieur Paul , o decano dos chefs franceses, está em plena atividade, e é capaz de recebê-lo humildemente à porta de seu magnífico restaurante de Collanges, a uns 10 km do centro de Lyon, e ainda ir cumprimentá-lo à mesa. Nesse ambiente agradabilíssimo você comerá como um rei, regalando-se com os melhores pratos da mais tradicional cozinha da França e podendo escolher ótimos vinhos dos mais variados preços de sua excelente carta. Não é por acaso que Bocuse é o eterno trois étoiles do Guide Michelin, que ostenta sem interrupção desde 1965. Caso esteja disposto a gastar consideravelmente menos e não sair de Lyon, o grande chef possui uma rede de brasseries de alto padrão na cidade, a Les Brasseries de Lyon, uma em cada canto da cidade (Nord, Sud, Est, Ouest) com ótima comida e excelente serviço.
O Nicolas Le Bec www.nicolaslebec.com tem duas merecidas estrelas no Guide Michelin. Oferece um ambiente agadável e intimista e ótimo serviço. Cozinha inventiva e boa carta de vinhos. Uma pedida é o Pigeonneau cuit em croûte de moutarde escoltado por um bom Hermitage.
No Restaurant Pierre Orsi (www.pierreorsi.com) também se come em grande estilo. Prove o Homard acadien em Carapace “Façon Pierre Orsi” ou os Ravioles de Foie Gras de Canard Jus de Porto et Truffes. O restaurante tem uma estrela no Guide Michelin.