A CERVEJA E O VINHO
16 ago 2016, Posted by Notícias e Artigos inAo contrário do que vem ocorrendo com o vinho nos últimos anos, muito pouca informação tem circulado a respeito da cerveja. Para a maioria das pessoas – principalmente no Brasil — as cervejas são todas iguais, e isso não é bem verdade.
Quem expressou esse conceito de forma mais singela foi, sem dúvida alguma — um ex-presidente daquele clube de futebol que vem a ser o principal rival de meu time, o Palmeiras. O simpático e folclórico Vicente Mateus – que Deus o tenha – quando queria tomar uma cerveja pedia logo “ uma Brahma da Antártica”. Quem diria que o sr. Mateus tinha também dotes de visionário, já que em nossos dias as duas arqui-rivais de então se fundiram na mesma empresa, a AMBEV…
Tal fusão só fez aumentar o mesmismo dos produtos oferecidos ao consumidor em nosso país. Sempre houve entre nós uma concentração enorme na produção de um só tipo de cerveja, as Lager, de baixa fermentação, leves e pouco encorpadas, em detrimento das Ale, mais encorpadas, complexas e com maior riqueza de aromas e sabores.
Não que nossa cerveja seja ruim. Longe disso. Além do mais a sua característica de leveza e frescor tem muito a ver com nosso clima tropical. No entanto, mesmo dentro do universo das lager, havia, em outros tempos, mais diversidade de características em nossas “loiras” do que agora, depois das grandes fusões dos grupos produtores.
Embora não seja uma bebida que tenha o glamour do vinho, ela tem também uma longa história. Bebida fermentada, feita a partir da cevada, do lúpulo e de outros cereais, seu nome origina-se do termo latino servisia e tem uma história muitas vezes milenar, mais antiga do que a do próprio vinho. Assim como este, sua história se confunde com a do próprio homem civilizado, tendo aparecido pela primeira vez , de forma documentada, há 5 000 anos, junto aos sumérios, povo que inventou a escrita.
Essa civilização ,que floresceu na Mesopotâmia, nos legou os primeiros traços da existência da cerveja. Vários tabletes de argila fazem menção à existência de uma bebida fermentada feita a base de grãos, chamada sikaru. Dois mil anos mais tarde, na mesma região, os babilônios aprimorarão a sua elaboração, e regularão o seu consumo e venda em dois artigos do código de Hamurabi.
As conquistas guerreiras dos babilônios fez a cerveja ganhar o mundo. Palestina, Egito (tido até há alguns anos, erroneamente, como seu berço; na verdade os egípcios aprimoraram bastante a sua elaboração), depois Grécia, Roma e toda a Europa.
Do outro lado do mundo, perto da atual Dinamarca, por volta de 1 500 A.C.– portanto ainda na Idade do Bronze –, surgiu um outro núcleo de invenção de uma bebida fermentada feita a partir de cereais e mel. Assim, a cerveja ganhou todo o Ocidente.
Nada supera o vinho em termos de riqueza de aromas e sabores, de elegância e fineza, isso sem falar da riqueza cultural que o envolve. No entanto, quem já degustou uma Chimay belga, cerveja produzida artesanalmente por monjes trapistas, de alta fermentação, ou mesmo a irlandesa Guiness Stout, escura, bastante lupulizada, com acidez frutada e seca, deve concordar que há muita coisa interessante no mundo da cerveja.
Para o leitor amante do vinho (mas também da degustação) achei interessante citar o paralelismo que o conceituado expert em cervejas inglês Michael Jackson (nada a ver com o estranho cantor pop, por favor) menciona em seu Michael Jackson’s Beer Companion. Diz o seguinte:
“ GUIA DA CERVEJA PARA OS AMANTES DO VINHO
Você é amante do vinho, mas ocasionalmente toma uma cerveja. De acordo com o vinho que você prefere, eis aqui a cerveja de que você poderia gostar. Não tem o mesmo sabor que o vinho (afinal, você queria uma cerveja), mas estará de acordo com seu paladar.
Branco seco – uma autêntica pilsen lupulizada
Gewürztraminer – uma lager estilo Viena, picante, ou uma lager mais escura tipo Munique
Champagne – uma cerveja de trigo
Blush Zinfandel ou Champagne Rosé – uma cerveja de framboesas
Cabernet Sauvignon – uma ale frutada estilo inglês, ou uma IPA (India Pale Ale) americana de carvalho
Pinot Noir – uma ale escocesa ou belga
Jerez Fino – uma lambic
Amontillado – uma porter ou uma stout seca
Porto –uma ale trappiste escura com um certo tempo de envelhecimento na garrafa”
Checar estas afirmações pode se tornar um exercício bastante prazeroso nesses dias de temperaturas senegalesas que enfrentamos. O que vocês acham?
AGUINALDO ZÁCKIA ALBERT