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TOSCANA, COMENDO E BEBENDO SEM FRONTEIRAS

16 ago 2015, Posted by degustadoresfronte in Notícias e Artigos

Por Aguinaldo Záckia Albert

O viajante curioso, amante do bom vinho e das coisas da cultura, não corre nenhum risco de se entediar percorrendo a Toscana. Aliada à sua paisagem idílica de belas colinas pontilhadas por ciprestes e videiras, convive-se ali com o que a cultura ocidental produziu de mais belo e pode-se ter contato com uma das mais tradicionais regiões vinícolas do mundo.
Graças à pujança cultural e econômica no final da Idade Média, a Toscana é uma das regiões com maior documentação disponível a respeito das tradições e costumes vinícolas. Berço do Renascimento, cidades autônomas como Firenze (Florença) e Siena eram centros culturais e mercantis, e muitas das exportações de vinhos eram negociadas nestas cidades. Antes dominada pela cultura do trigo e das oliveiras, a região vê crescer em tamanho e importância o plantio de uvas para a produção vinífera a partir da sucessão de governos dos Médici.
Desde esta época, o Chianti já era considerado o vinho mais valorizado da Toscana, tendo sido posteriormente, em 1716, a primeira região demarcada da Toscana por Cosimo III dei Medici, grão-duque da época. Tendo tido momentos de glória e de obscuridade, o Chianti está há séculos ligado a nomes nobres que até hoje o produzem, como Frescobaldi, Ricasoli e Antinori. Ao mesmo tempo, na mesma Toscana, surgiu um importante movimento que causou a recente revisão da legislação italiana para o vinho e a ascensão de estrelas como o Tignanello e o Solaia, acrescentando novas uvas italianas e francesas ao panorama da produção vinícola regional.
A região da Toscana marca o início da área central da Itália, fazendo fronteira ao norte com a Emilia-Romagna, a noroeste com a Ligúria e ao leste com Marche e Úmbria. Ao sul, limita-se com o Lazio, sendo a oeste banhada pelo Mar Tirreno. A região é dominada por suaves colinas (68% do total), tendo apenas 8 % de áreas planas e o restante do território já mais acidentado, na subida dos montes Apeninos a leste. A região se estende por cerca de 23 000 km2 , com uma área plantada de 64 000 ha e produz 2,9 milhões de hectolitros por ano.
Como se pode perceber, é uma região bastante extensa levando-se em conta as dimensões européias, e nela reina soberana a uva Sangiovese, base da maior parte dos tintos, secundada pela Canaiolo, a Prugnolo Gentile, a Brunello (na verdade uma variante da Sangiovese), a Morelino di Scansano, além de algumas castas internacionais, como a Cabernet Sauvignon e a Merlot, bastante presentes nos IGTs e nos chamados Super-toscanos. Entre as brancas, as principais são a Malvasia di Chianti, a Malvasia di Candia, a Trebbiano, a Vermentino, a Vernaccia, a Chardonnay e a Sauvignon Blanc.
Vinhos como o Chianti, o Brunello di Montalcino, o Vino Nobile di Montepulciano, a Vernaccia di San Gimignano e os hoje tão prestigiados Bolgheri são apenas alguns desses deliciosos vinhos que têm em comum a grande marca dos vinhos italianos: são vinhos gastronômicos, ideais para acompanhar a boa comida graças ao seu frescor, boa acidez e equilíbrio. Sendo assim, nada melhor do que se aventurar por essas terras em busca de bons restaurantes.

MONTALCINO
Nessa cidade encantadora, situada não muito longe de Siena, encontramos o vinho DOCG mais prestigiado da Toscana, e talvez de toda a Itália. Em 1888, um tradicional vinhateiro local, Ferrucio Biondi-Santi, produziu um vinho com um clone da variedade Sangiovese que ganhou o nome de Brunello, também conhecido como Sangiovese Grosso. Com o tempo, esse vinho de grande potência, estrutura e capacidade para envelhecer alcançou grande prestígio (e altos preços!), ganhando reputação mundial. A versão mais leve e com menos carvalho, e também menos cara, é seu irmão mais novo, o Rosso di Montalcino.
Nessa cidade medieval e em seus arredores pode-se comer muito bem e acompanhado desses vinhos. No bairro de Sant´Angelo in Colle, a poucos quilometros do centro histórico, encontra-se o meu restaurante preferido, a Trattoria Il Leccio. Pega-se uma pequena travessa da estrada que nos leva a Montalcino, roda-se por mais alguns metros e logo se estaciona numa encosta, bem perto da pracinha. Os últimos 50 metros devem ser feitos a pé. Na parte mais alta da colina somos surprendidos pela beleza desse belo recanto rodeado por casinhas medievais de pedra. Numa delas está o restaurante.
O local é perfeito, o proprietário Luca Tognazzi muito simpático, os preços acessíveis e a comida excelente. Os antipasti são maravilhosos e a Bistecca alla fiorentina inesquecível. Muito bom também o Tortelli Maremmani Burro i Salvia.Se o tempo estiver bom, pegue uma mesa na varanda. Eles têm uma pequena loja de vinhos no restaurante, onde se pode encontrar os grandes vinhos locais a preços honestos. Minha grande surpresa foi ter encontrado, em minha última visita, alguns vinhos brasileiros, da vinícola Miolo! O chef Lucca logo me explicou: o locutor da Globo e empresário Galvão Bueno é freguês constante do local, tendo mesmo realizado o casamento de sua filha no restaurante, com o comaprecimento da elite dos pilotos da Fórmula 1. Convém lembrar que o locutor é sócio da Miolo e comprou recentemente uma tradicional vinícola de Montalcino, a Argiano.
Aqueles que quiserem alguma coisa mais formal, uma boa pedida é o restaurante do produtor Castello di Banfi, o “La Taverna”. Situado dentro do antigo castelo fortificado no topo da colina, cria a possibilidade de almoçar ou jantar e conhecer também o belíssimo castelo onde se produz um dos mais famosos Brunelli. Comida mediterrânea tradicional e ambinete classudo. No centro histórico, uma série de pequenas tratorias atendem muito bem o turista a bons preços.

SIENA
A antiga rival de Florença é um bom lugar para se estabelecer e explorar os vinhedos da região do Chianti. Ótimos produtores se estabeleceram perto dali e a cidade medieval encanta o turista com seu labirinto de vielas em forma de leque ao redor da famosa Piazza del Campo onde, a cada ,dois anos, é disputado o Palio, tradicional corrida de cavalos. São múltiplos os pequenos restaurantes e os bares na praça, onde se pode comer uma boa pizza ou tomar um refrescante spritz de aperol, popular coquetel servido em toda a Itália à base de Prosecco e licor, enquanto os jovens, nos dias de sol, se deitam nos paralelepípedos da grande praça.
É praticamente obrigatório acompanhar os pratos com o vinho símbolo da região, o Chianti. Quando visito a cidade acompanhado de meu grupo de enoturismo DEGUSTADORES SEM FRONTEIRAS, costumo visitar a SCUOLA DI CUCINA di Lella Ciampoli, onde passamos toda a tarde assistindo uma aula de culinária local e depois preparamos nosso próprio jantar. Um programa delicioso coordenado pela simpática dona Lella. Nosso último menu: Pici al Ragu, Agnello al Forno e Cantuci, de sobremesa.
Caso você esteja bem de finanças, hospede-se no espetacular BORGO SAN FELICE, um 5 estrelas da rede Relais&Châteaux localizado em Castelnuovo Berardenga, bem pertinho de Siena. www.borgosanfelice.it . Se preferir faça apenas uma visita ao borgo, almoce e visite a vinícola , que produz um excelente Chianti Classico.
Em Gaiole in Chianti, próximo a Siena, merece ser visitado o CASTELLO DI BROLIO, do Barone Ricasoli, o inventor do Chianti, uma visita histórica imperdível regada a bons vinhos do produtor Ricasoli www.castellobrolio.com .

MONTEPULCIANO
Ao redor da colina em que se destaca a bela cidade de Montepulciano, os vinhateiros produzem mais um vinho DOCG da Toscana. Usando majoritariamente outro clone selecionado da Sangiovese, conhecido por Prugnolo Gentile, o Vino Nobile di Montepulciano segue a receita do corte do Chianti (geralmente com Canaiolo) e é considerado um vinho de potência intermediária entre a do Chianti Classico e a do Brunello, embora não tenha aromas tão complexos como o do primeiro ou a força de caráter do segundo. Aqui, as noites são mais quentes e o solo mais arenoso, e o período mínimo de guarda do vinho em madeira foi reduzido para um ano. Montepulciano também tem seu DOC Rosso, um vinho bastante mais suave.
Há bons produtores por perto, que podem ser visitados, entre eles Avignonesi, Poliziano e Poderi Boscarelli. Pode-se almoçar ou jantar na ótima Locanda Cicolina, na Via Provinciale 4, e se regalar com deliciosa e rústica comida local. Imperdível a Bistecca alla Fiorentina. No entanto, o lugar mais charmoso da cidade é o tradicionalíssimo Caffe Poliziano www.caffepoliziano@libero.it , um café e casa de chá muito chique com uma vista deslumbrante dos arredores da cidade. Obrigatório.

REGIÃO DE MAREMMA
Bem menos conhecida do turista , é a região de Maremma, situada ao sul da Toscana e banhada pelo Mar Tirreno. Essa região de beleza selvagem e que já foi pantanosa e hostil, hoje goza de um clima ameno e agradável. Ao contrário das zonas tradicionais do interior, despertou para o vinho apenas no século XIX e hoje produz alguns dos melhores produtos de toda a Itália. Ali nasceram os Supertoscanos, vinhos que revolucionaram a história vitivinícola da península com o uso de uvas francesas (Merlot, Cabernet Sauvignon) e o uso de pequenas barricas de carvalho, no estilo de Bordeaux, para afinar seus vinhos.
Sassicaia, Ornellaia, Ca Marcanda (do piemontês Angelo Gaja), Petra e Tua Rita são alguns dos nomes de produtores da região que se tornaram ícones internacionais em termos de vinhos de alta qualidade e altos preços. Esses produtores se espalham por pequenos municípios como Massa Maritima, Suvereto, Bolgheri e Castagneto Carducci. Vale a pena explorar essa fascinante região que fica ao sul de Livorno. Um bom local para se hospedar é o Hotel e Spa Tombolo Talasso www.tombolotalasso.it , um belíssimo hotel situado bem em frente ao mar, bastante amplo e confortável, e que conta com um restaurante de muito boa comida e ótima carta de vinhos.
Pode-se marcar visitas com antecedência junto aos produtores acima citados, alguns deles oferecem também almoços refinados, como é o caso do Tua Rita www.tuarita.it , na cidadezinha de Suvereto, além de ter vinhos excelentes. O produtor Petra www.petrawine.it possui uma sede moderna e deslumbrante, com projeto arquitetônico de um dos mais renomados arquitetos italianos, Mario Botta. Sassicaia e Ornellaia têm vinhos extraordinários, que dispensam comentários, e oferecem também ótima recepção.
Uma dica gastronômica: não deixem de conhecer a pequena vila medieval de Bolgheri, que empresta seu nome aos melhores vinhos da região. Fica ao final da bela estrada arborizada que leva a Sassicaia e Ornellaia, e lá se encontra a Enoteca Tognoni www.enotecatognoni.it . Nesse lugar rústico e encantador pode-se comer a melhor cozinha da região entre uma e outra visita às vinícolas. E acompanhado de alguns dos melhores vinhos da “bota”…

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