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ALSÁCIA, O IMPÉRIO DOS VINHOS BRANCOS

16 ago 2011, Posted by degustadoresfronte in Notícias e Artigos

A Alsácia é a mais peculiar das regiões produtoras de vinho da França. Situada entre as margens do rio Reno, a leste, que delimita hoje a fronteira franco-alemã, e a cordilheira de Vosges, a oeste, a Alsácia tem uma história conturbada, pontilhada de guerras e conflitos, o que fez com que fosse considerada, por várias vezes e de forma alternada, território alemão e francês.

Para não irmos ainda mais longe no tempo, entre os anos 962 e 1648 a região fazia parte do Sacro Império Romano-Germânico, que cedeu à França nesse último ano, pelo Tratado de Westfália, a parte sul de seu território. Pouco mais tarde, em 1681, a parte setentrional, onde se situa Estrasburgo, foi também anexada ao território francês. Desta forma, durante um longo período , que terminaria em 1871, a Alsácia (juntamente com a Lorena), foram partes integrantes da França.

Vencida na guerra de 1871 contra o Império Alemão, a França cede o território ao seu tradicional inimigo, só voltando a retomá-lo em 1919, com a vitória dos aliados na I Guerra Mundial. O Tratado de Versalhes sacramentou o fato. A Alsácia permaneceria francesa até 1940, quando as forças do III Reich invadem a França e anexam o território. A retomada francesa ocorreu pouco depois, em 1945, com a derrota alemã. Desde esta data a Alsácia pertence a França, sendo hoje uma de suas províncias mais ricas e de extrema importância política e econômica, lembrando que se situa em Estrasburgo a sede do Parlamento Europeu. Graças a esses fatos, a Alsácia possui hoje uma forte identidade cultural, às vezes francesa, às vezes alemã, o que torna a visita a essa belíssima região, arduamente reconstruída depois da destruição da Segunda Grande Guerra, uma experiência extremamente rica e curiosa.
O VINHO NA ALSÁCIA

Região produtora de vinhos da Alsácia se estende por 110 km desde a cidade de Thann, perto da fronteira suiça, até Marlenheim, ao norte, próximo de Estrasburgo. A região se divide em duas, Alto Reno e Baixo Reno. Percorrer a chamada “Rota do Vinho”, que corta todo o território, e visitar suas encantadoras cidades medievais e seus vinhedos realmente vale a pena. Colmar, Turkheim, Riquewir, Ribeauvillé, Selestat, Obernai. Finalmente Estrasburgo, a metrópole regional, com todos seus encantos e sua rica vida cultural e gastronômica.

A variedade de microclimas e solos que se encontra pelo caminho é enorme, o que possibilita ao vinhateiro alsaciano adaptar da maneira mais sábia as uvas regionais aos terrenos mais adequados. O peso do conceito de terroir é ali levado tão a sério quanto na Borgonha, e o resultado são vinhos brancos de grande equilíbrio e fineza. Granito, argila, calcário, areia, greda, são os elementos que constituem esse rico mosaico de terrenos, fruto do desmoronamento de partes das montanhas do maciço de Vosges e da Floresta Negra, ocorrido há cerca de 50 milhões de anos.
AS UVAS

As castas brancas dominam a região. Apenas 8% dos vinhos são tintos ou rosés (geralmente para consumo local), os restantes 92% são utilizados na elaboração de vinhos brancos tranquilos e espumantes. As variedades principais são sete:

RIESLING – Tida por muitos como a melhor casta branca do mundo, a Riesling é a grande estrela da Alsácia, seguide perto pela Gewürztraminer. Dá origem a vinhos de grande fineza e elegância, com aromas delicados de frutas cítricas e tropicais, além de notas florai e minerais.

GEWÜRZTRAMINER – Os vinhos feitos na região com esta uva são célebres. Têm aspecto dourado, aromas intensos de frutas ( grappefruit, lichia, marmelo) , florais e de especiarias (pimenta, canela), como denuncia seu próprio nome: Würze significa especiaria em alemão. Seus vinhos são os parceiros ideais da exótica gastronomia asiática, principalmente a tailandesa. Carne de porco e de ganso também vão muito bem eles.

PINOT GRIS – Uva cinzenta e levemente azulada, com ela se produz os vinhos mais encorpados e macios e com menor presença aromática. Extremamente gastronômico, por suas características, pode lembrar um bom branco da Borgonha. Seu antigo nome era Tokay Pinot Gris.

PINOT BLANC – Vinhos de aromas agradáveis e discretos. Frescos, macios e redondos.

MUSCAT D´ALSACE – Produz-se com ela vinhos brancos com aroma bem característico. O vinho é seco, ao contrário do que acontece com as castas da família da Muscat no sul da França, cujos vinhos são doces.

SYLVANER – Vinhos leves e refrescantes, com aromas agradáveis, frutados e discretos. Muito popular na Alemanha (Francônia).

PINOT BLANC – Vinhos frescos e macios com aromas discretos.

PINOT NOIR – É a grande representante tinta da região, consumida mais localmente.

Os vinhos são menos concentrados e mais leves do que os da Borgonha.

A CLASSIFICAÇÃO DOS VINHOS

Todos os vinhos alsacianos são da categoria AOC (Appellation d´Origine Controllée). Ligados à tradição alemã, os vinhos ostentam no rótulo o tipo de uva com que são feitos, quando são monovarietais (100% da mesma uva, a maioria dos casos). Quando se utiliza uma mistura de várias cepas, o nome “ Edelzwicker” aparece no rótulo.

São três as categorias dos vinhos:

AOC ALSACE – 12 000 ha de vinhedos – A denominação mais comum. Abarca a maior parte dos vinhedos.

AOC ALSACE GRAND CRU – 500 ha de vinhedos – Esta denominação só pode ser utilizada por 4 castas: Riesling, Gewürztraminer, Muscat e Pinot Gris. O terroir (tipo de solo, inclinação do terreno e exposição ao sol) desempenha aqui fator preponderante. Leva-se em conta também o rendimento por hectare e o grau de açúcar das uvas. São 50 os vinhedos Grand Cru da Alsácia e devem ser mencionados nos rótulos.

AOC CRÉMANT D´ALSACE – Os vinhos espumantes da região, que gozam de grande prestígio, pertencem a esta categoria. São elaborados pelo Método Tradicional como o champanhe (segunda fermentação na garrafa), e são brancos na sua maioria. Pinot Blanc, Riesling, Pinot Gris, Pinot Noir e, raramente, a Chardonnay, são as uvas utilizadas. Os rosés são feitos exclusivamente com a uva Pinot Noir.

PRODUTORES E VINHOS DE DESTAQUE

Na viagem que realizamos à região, em maio de 2010, pudemos visitar os mais representativos produtores alsacianos e provar seus melhores vinhos. Segue abaixo uma indicação daqueles que mais nos impressionaram.

DOMAINE PAUL BLANCK – Em Kientzheim.
A recepção é muito cordial de Philippe Blanck, um homenzarrão de dois metros de altura, grande também na simpatia. Tem como sócio seu primo Fréderic nesta pequena vinícola que tem 1/3 de seus vinhedos na categoria Grand Cru.

PINOT GRIS 2006 GRAND CRU FURSTENTUM 2006 SELÉCTION DES GRAINS NOBLES – Notável pelo equilíbrio entre a doçura e a boa acidez. Notas de mel, damasco, pêssego e cogumelo. Delicioso. Ainda jovem, deve evoluir bem.

DOMAINE TRIMBACH – Em Ribeauvillé.
Situado em Ribeauvillé, bem próxima de Colmar e Bregheim, esta pequena cidade rivaliza com Riquewhir em termos de beleza. A produção de vinho nessa tradicional família remonta a 1628! Instalada em um belo prédio bem na entrada da cidade, é um dos nomes mais respeitados da Alsácia e tem uma produção expressiva.

RIESLING GRAND CRU 2004 CUVÉE FRÉDERIC ÉMILE – Um Riesling excepcional feito com uvas de vinhedos plantados em solo calcário. Mineral e cítrico, lembrando grapefruit, com notas trufadas. Macio e com acidez equilibrada. Muito fino e elegante.

DOMAINE DOPFF-AU-MOULIN – Em Riquewhir.
O forte aqui são os espumantes, que representa a maior parte da produção. A tradição remonta ao avô do atual proprietário, que morou em Champagne,o simpático presidente Pierre-Etienne Dopff. Foi o introdutor dos vinhos espumantes na região. A casa foi fundada em 1574.

CRÉMANT D´ALSACE CUVÉE JULIEN – Elaborado com a uva Pinot Blanc. O vinho teve leve passagem por carvalho. Leve e refrescante, com boa fruta.

HUGEL & Fils – Em Riquewhir.

Um dos maiores nomes da Alsácia, de grande prestígio internacional. A casa foi fundada em 1639 e a sede (também do século XVI), muito bem preservada, fica no centro da encantadora cidade de Riquewhir.

HUGEL GEWÜRZTRAMINER JUBILÉE 2006 GRAND CRU SPOREN – Um Gewürztraminer bem gastronômico, com aromas de lichia, pêra e rosas. Opulento, bem encorpado, bastante macio na boca.

MAISON MARCEL DEISS – Em Bergheim.

Uma casa com uma filososfia revolucionária que produz grandes vinhos. Utiliza processos biodinâmicos e dá prioridade absoluta ao conceito de terroir.Apesar de produzir ótimos monovarietais, tradicionais da região, vem se dedicando à produção de vinhos que mesclam várias uvas planatadas num mesmo vinhedo (e colhidas na mesma época!). Vinhos instigantes e excelentes.

BURG 2005 – Elaborado com uma mescla de uvas brancas levemente botritizadas. Um vinho de grande complexidade aromática (especiarias, defumação, frutas supermaduras, botrytis). Carnudo, mineral e com boa fruta na boca. Alta qualidade.

AGUINALDO ZÁCKIA ALBERT

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