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O VINHO NA NOVA ZELÂNDIA

16 mar 2009, Posted by degustadoresfronte in Notícias e Artigos

As altas temperaturas de nosso verão despertam nos enófilos o desejo de beber  vinhos frutados e de boa acidez, de preferência brancos, para refrescar e acompanhar pratos mais leves. Nessas circunstâncias, os vinhos neozelandeses são um dos primeiros a serem lembrados.   A Nova Zelândia é a região produtora mais isolada do planeta, um conjunto de ilhas a cerca de 1600 km da já distante Austrália. Embora sua produção não seja muito expressiva, a qualidade alcançada por seus vinhos em um curto espaço de tempo  lhe valeram merecido destaque no cenário mundial.

Não existe região vinícola que produza vinhos num território tão austral  quanto a Nova Zelândia. Sua zona produtora localiza-se entre os paralelos 35° e 44° de latitude sul, correspondendo em termos europeus ao sul da Espanha e à Côte-du-Rhône. Entretanto, seu clima é bem mais frio do que o destas regiões do Velho Mundo pois, embora as latitudes sejam as mesmas, a falta de massa continental ao seu redor faz com suas temperaturas sejam consideravelmente mais baixas, o que lhe garante uma vocação bastante diversa quanto às castas de uvas ali plantadas e o estilo de seus vinhos.

Sua história vitivinícola é bem recente, pelo menos a de boa qualidade, uma vez que a elaboração  de vinhos a partir da vitis vinifera em larga escala só se inicia em 1970. Já nos anos 80 seus Sauvignon Blancs e Chardonnays começaram a ter  reconhecimento internacional.

Os primeiros vinhedos foram plantados em 1840 em Kerikeri, Bay of Island, Ilha do Norte, pelo missionário anglicano Samuel Mardsen. Entretanto, os primeiros vinhos só começaram a ser produzidos 20 anos mais tarde, como confirma o depoimento do explorador francês Dumont d’Urville, que nos fala de “uma latada (treliça) em que floresciam várias parreiras…com grande prazer pude provar o produto do vinhedo que acabara de ver. Fui servido de um leve vinho branco , muito espumante, e delicioso ao paladar, que eu apreciei imensamente” (The Wines and Vineyards of New Zealand, pag.8) . Como se vê, já se prenunciava a grande vocação da região para os refrescantes vinhos brancos.

Alguns fatos, no entanto, conspiraram para a que viticultura não prosperasse de forma desejável. Em primeiro lugar, a população de origem predominantemente inglesa, mais voltada para o consumo da cerveja, embora a elite apreciasse o vinho, mas neste caso o vinho tinha que ser um Bordeaux, um Jerez ou um Porto europeu.

Em segundo lugar, a fundação da New Zealand Temperance Society, em 1836, que pregava a proibição de toda bebida alcoólica, da mesma forma como viria ocorrer no século seguinte nos EUA. Seu poder foi muito grande entre os anos 1881 e 1918, vindo a frustar os esforços do governador viticulturista Romeo Bragato, que muito fez pela melhoria da qualidade do vinho neozelandês entre os anos 1895 e 1909.

A isso tudo devemos somar as seqüelas da praga da filoxera , que também atingiu estas ilhas distantes por volta de 1895. As conseqüências foram desastrosas pois, ao invés de seguirem o exemplo europeu de plantar espécies de vitis vinifera enxertadas em “cavalos” de espécies americanas, simplesmente optaram por plantar pura e simplesmente castas americanas híbridas, resistentes à praga mas que dão origem a vinhos de baixíssima qualidade. Assim, em 1960 a uva Isabella, conhecida na região por Albany Surprise, era a uva mais plantada no país.

Com altos e baixos chega-se aos anos 70, o interesse pelo vinho cresce e  tem início uma importante revolução de qualidade no país, o estilo dos Sauvignon Blancs, Chardonnays e Pinot Noir neozelandeses começando a marcar presença. Nos nossos dias, o prestígio do país como produtor de vinhos de alta qualidade já está consolidado.

PERFIL VITIVINÍCOLA

A indústria vinícola desta região que surpreendeu o mundo com sua rápida ascensão, sofreu forte influência de pesquisadores da Universidade de Adelaide, Austrália, onde se formou a maioria dos enólogos neozelandeses. Além disso, boa parte da mão de obra especializada que trabalha no país é também de origem australiana. Vale lembrar que a Austrália tem uma tradição vitivinícola maior do que a Nova Zelândia, que recebeu também muitos enólogos de origem européia.

Apenas uma grandes vinícola produz metade do vinho do país, e outras duas, 40%.Entretanto, é nos 10% restantes que se encontram os melhores vinhos da região. Muitos dos proprietários destes pequenos vinhedos seguem o chamado “lifestyle winery”. Geralmente são aposentados ou jovens casais que buscam mais uma forma de vida alternativa , atraídos mais pelo bucolismo de seu ambiente de trabalho do que pelos objetivos comerciais.
REGIÕES

São 10 regiões produtoras distribuídas pelas 2 ilhas, que seguem nomeadas no sentido norte/sul:

NORTHLAND – Os primeiros vinhedos do país foram aqui plantados no início do século XIX. Depois de abandonada, o interesse pela vitivinicultura ressurgiu nos últimos anos e agora se expande. É a região de clima mais quente, portanto mais adequada à Cabernet Sauvignon, Merlot e Chardonnay, as três castas mais plantadas. O solo varia do argiloso ao argilo-arenoso, passando por regiões de sub-solo vulcânico.
AUCKLAND –. Henderson, Kumeu e Huapai , situadas a noroeste da cidade de Auckland, são as mais tradicionais sub-regiões desta zona. Cabernet Sauvignon, Merlot e Chardonnay são as uvas mais plantadas, embora também se encontre a Sauvignon Blanc e a Semillon. Os vinhos tintos são os mais reputados.
WAIKATO/BAY OF PLENTY – Pequena região ao sul de Auckland que começa a despontar. Chardonnays, Sauvignon Blancs e Cabernet Sauvignons de boa qualidade.
GISBORNE – Situada no extremo leste da ilha, é o vinhedo mais oriental do planeta. Vinhedos geralmente plantados em planícies. Solos de calcário-argiloso sobre sub-solo vulcânico ou arenoso.90% de uvas brancas, sendo metade de Chardonnay. Sem muita expressão em termos de qualidade.
HAWKES BAY – Perto da cidade de Napier, é uma das mais antigas regiões produtoras do país e também uma das mais reputadas, além de ser a 2ª maior. A enorme variedade de solos propicia o plantio de várias cepas. Tem o maior número de horas/sol da Nova Zelândia graças a uma cadeia de montanhas bloqueia as chuvas trazidas pelo vento. A Chardonnay predomina, embora o clima ensolarado atraia  cepas tintas como a Pinot Noir e outras de amadurecimento mais tardio, Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc e Syrah.
WELLINGTON – Ocupa a região mais ao sul da Ilha do Norte.Martinborough Wairarapa são seus distritos mais famosos. A região se notabiliza pelos seus esplêndidos Pinot Noir e Sauvignon Blancs. A produção da região é pequena mas de alta qualidade. O estilo de seus vinhos é muito semelhante aos de Marlborough, ilha do sul.
NELSON – Já na Ilha do Sul. Área de grande beleza natural e pequena produção.Chardonnay, Sauvignon Blanc, Riesling e Pinot Noir ocupam quase a totalidade da área plantada.
MARLBOROUGH – Os primeiros vinhedos só foram plantados em 1973 e, no entanto, é hoje a região mais conhecida e reputada do país. Seus Sauvignon Blanc são extraordinários, de grande riqueza e frescor. É também a maior produtora de espumantes, elaborados a partir da Chardonnay e Pinot Noir, com as quais produz também vinhos tranqüilos de altíssima qualidade. Vinhedos plantados em terraços planos às margens de rios. Solos pedregosos (os melhores) e argilosos.
CANTERBURY – Próxima à cidade de Christchurch, onde se plantaram os primeiros vinhedos nos anos 70. Mais ao sul fica a nova e promissora sub-região de Waipara. Verões longos e secos, com bastante insolação, e invernos rigorosos são a marca da região. Uvas mais plantadas em ordem decrescente: Chardonnay, Pinot Noir, Riesling e Sauvignon Blanc .É a 4ª maior região do país.
CENTRAL OTAGO- Situada abaixo do paralelo 45, é a região produtora de vinho mais austral do mundo. Vinhedos plantados em altitude propiciam boa insolação e grande amplitude térmica. Muito bons vinhos a base de Pinot Noir, Chardonnay, Sauvignon Blanc e Riesling.
PRINCIPAIS UVAS

SAUVIGNON BLANC – Aclamada por todos como a grande uva do país. Dá vinhos extremamente frutados, com aromas pungentes de maracujá, lima e mato cortado de grande frescor e persistência. Rivalizam e, muitas vezes, suplantam os melhores franceses do vale do Loire. Seu plantio se iniciou em Auckland mas espalhou-se por todo o território. Atualmente, 2/3 de sua produção é encontrada em Marlborough, Ilha do Sul.
CHARDONNAY – É hoje a cepa mais plantada no país. A grande diversidade de solos e, principalmente, de climas, associado aos vários estilos de vinificação, propiciam uma ampla gama de vinhos elaborados com esta uva. No geral são bastante complexos, frutados e frescos. Os de regiões mais quentes (Auckland e Northland) tendem a ser mais encorpados, maduros e com grande amplitude de aromas, enquanto os de Marlborough são mais ácidos e refrescantes, com marcado aroma de pêssegos e frutas cítricas. Barricas de carvalho francês e americano são utilizados em seu afinamento. É a principal uva utilizada nos sparkling wines.
PINOT NOIR – Esta aristocrática uva borgonhesa, que ama as baixas temperaturas e o clima seco, e que dificilmente se adapta a outras regiões,  encontrou na Nova Zelândia um terroir ideal. Seus vinhos surpreendem pela tipicidade e elegância. É muito utilizada também nos vinhos espumantes com segunda fermentação na garrafa.
CABERNET SAUVIGNON – Produz seus melhores resultados nas regiões mais quentes e secas do norte. Vibrantes e elegantes, muitas vezes são cortados com a uva Merlot.
MERLOT – Outra uva de Bordeaux que aparece tanto vinificada isoladamente quanto cortada com sua “prima” Cabernet Sauvignon, e, como ela , prefere as regiões menos frias do norte.
SEMILLON, RIESLING, GEWÜRZTRAMINER e PINOT GRIS, três uvas aromáticas brancas de primeiro time, são também cultivadas com sucesso e ótimos resultados.

AGUINALDO ZÁCKIA ALBERT

Publicado na edição #40 / 2009 da revista ADEGA.

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