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BORDEAUX, ORGANIZAÇÃO E SUCESSO NA VINEXPO 2005

16 set 2005, Posted by degustadoresfronte in Notícias e Artigos

Contrariando as perspectivas mais pessimistas, podemos afirmar que a última edição da Salão Internacional de Vinhos e Destilados de Bordeaux, a VINEXPO, foi um grande sucesso. A feira acontece a cada dois anos e havia enfrentado, em sua última edição (2003), uma série de problemas.

Aberta apenas a um público de profissionais do ramo de todas as partes do mundo, a mostra sofrera com problemas de organização, principalmente aqueles causados pela impressionante onda de calor que se abateu por toda a Europa no verão de 2003. O sistema de climatização falhou, fazendo com que, em um dos três pavilhões, a temperatura atingisse os 45 graus, fazendo com que muitas garrafas de vinho estourassem. Tal fato fez com que, no segundo dia, os expositores mais prejudicados – principalmente os australianos, neozelandeses e sul-africanos – se retirassem da feira, e que muitos deles não renovassem a locação de seus espaços para 2005.

Além disso, uma grande área destinada a vinhos italianos teve sua locação suspensa um mês antes da feira, fato que, somado à crise que o vinho francês vem sofrendo num mercado mundial com um excesso de oferta do produto e uma feroz concorrência do Novo Mundo, ajudava a desenhar um panorama sombrio para a Vinexpo 2005.
OS NÚMEROS DO SUCESSO

Ao fim e ao cabo, tudo terminou se resolvendo e funcionando muito bem. Apesar da temida “canicule” (como os franceses denominam as fortes ondas de calor) ter de novo dado as caras na região, a climatização funcionou muito bem, fazendo com que o Salão se tornasse um verdadeiro oásis em meio a uma Aquitânia em brasas. O espaço não assumido pelos italianos foi relocado e a feira – muito bem organizada – teve um considerável aumento de presenças com relação a 2003.

A impressão inicial era de um pouco menos de público, fato que se explicava pelo aumento da largura dos corredores de circulação. Os 2 400 expositores, de 41 países, se distribuíam pelos 3 enormes pavilhões com 41 000 m² de área de stands, uma verdadeira Disneyworld para os adultos aficionados do vinho e dos destilados.

Degustações e conferências, franqueadas ao público, aconteciam em salões durante a mostra. Destacaram-se as que abordaram os vinhos de Ribera del Duero, a de Grands Crus de Bordeaux, as de Sauternes e Pomerol, e a dos vinhos dos Hospices de Beaune.

Vários expositores realizaram eventos paralelos em seus châteaux no horário de almoço ou jantares após o fechamento do salão. Nessas ocasiões todo o glamour e refinamento dos produtores bordaleses vinha à cena, como pudemos averiguar no almoço que aconteceu no Château Cheval Blanc, em Saint-Emilion, e no memorável jantar no Château Lafite-Rothschild, em Pauillac.

Várias personalidades de destaque visitaram a feira, como o Príncipe das Astúrias, filho do Rei de Espanha, o ministro francês da Agricultura e da Pesca, Dominique Bussereau, e o simpático ator francês Gerard Depardieu, ele mesmo um vinhateiro.

No último dia, encerrando a mostra, tudo era alegria durante a conferência de imprensa que assistimos, e quando se fez um balanço geral do evento. Cerca de 49 000 pessoas visitaram a mostra, 5% a mais do que o salão anterior; 32% delas eram francesas, 68%, estrangeiras. Deste último universo, 73% eram europeus, com um grande aumento de presenças de alguns países como a Finlândia (+54%), Alemanha (+54%) e a Suíça (+10%).

Mil e quinhentos dos visitantes inscritos vinham da Ásia (+36%), com especial destaque para Taiwan, China e Índia, mercados muito promissores para o vinho e os destilados. Da América do Norte, região em que a distribuição da bebida está cada vez mais concentrada em grandes empresas, vieram 1 500 pessoas, número parecido com o do salão anterior. Por outro lado, a presença de pessoas dos países da Europa Central e Oriental teve uma expressiva progressão, vindo em primeiro lugar a Rússia, com um aumento de 73% de presenças.

Os vinhateiros franceses, como era de se supor, tiveram marcada presença no salão (62% da área total) , principalmente os bordaleses e os das novas regiões emergentes, como a Provence e o Languedoc-Roussillon, com muito bons vinhos. Por não se reunirem em um único espaço, os italianos tiveram uma presença menos notada, mas mesmo assim vieram em segundo lugar (8% da área), uma presença que consideramos discreta levando-se em conta o potencial vinícola que têm. Espanha, Chile, Alemanha e Portugal, com vinhos de alta qualidade (ver Jury Découvertes), vieram a seguir.

Argentina, Austrália, EUA e África do Sul marcaram também boa presença. A ausência mais sentida foi a da Nova Zelândia, ainda agastada com os problemas que teve na última edição do salão.

Pudemos perceber uma forte presença dos vinhos rosés, alguns de muito boa qualidade, oriundos principalmente da Provence, Languedoc-Roussignon e Espanha, o que parece confirmar uma tendência de alta deste tipo de vinho. O mesmo pudemos constatar, após o horários da feira, nas brasseries e bistrots da festiva Bordeaux, cheia de eventos paralelos ao Salão. Os refrescantes rosés, ideais para acompanhar os pratos leves consumidos nesse verão escaldante, estavam presentes na maioria das mesas.

A 14ª edição da VINEXPO volta a acontecer em Bordeaux, em 2007. Antes disso, em maio de 2006, acontecerá a VINEXPO ASIA-PACIFIQUE, em Hong Kong, sua edição no coração do Extremo Oriente, um mercado de enorme potencial que poderá, para alívio de muitos produtores, fazer aumentar os índices mundiais de consumo da bebida. É aguardar e conferir.

O PRÊMIO JURY DÉCOUVERTES

Vindos de vários países do mundo, um grupo formado por 12 jornalistas de vinho e 2 sommeliers foi convidado para constituir um painel de jurados, o “Jury Découvertes”, do qual este articulista teve oportunidade de participar. O objetivo era descobrir vinhos “genuinamente novos para cada um” e de alta qualidade, que tivessem vivamente impressionado o jurado. Os três melhores vinhos escolhidos ganhariam o prêmio “Coup de Coeur” (alguma coisa como “paixão à primeira vista”, em português) do Salão.

Os jurados circularam à vontade pela feira por 3 dias, degustando todo tipo de vinho, buscando “garimpar” vinhos interessantes e inéditos (pelo menos para ele, degustador). Os vinhos escolhidos por cada um seriam degustados ao final, às cegas, por todos os jurados, que escolheriam os 10 melhores da mostra, dentre eles os 3 vinhos “Coup de Coeur”. Portugal deu um “banho” na premiação, com nada menos do que dois dos três vinhos escolhidos com o prêmio máximo “Coup de Coeur”.

O júri foi composto pelas seguintes pessoas:

Alemanha- Helga Bumgartel
Bélgica – Jo Gryn (Presidente do Júri)
Brasil – Aguinaldo Záckia Albert (Vinho Magazine)
Espanha – Bartolomé Sanchez
Estados Unidos – Robert Whiteley e Sébastien Verrier (sommelier)
Inglaterra – Steven Spurrier (editor da revista Decanter) e Charles Mercalfe
Irlanda – Thomas Clancy
México – Juan Carlos Flores (sommelier)
Suíça – Othmar Staehli
OS TOP TEN

TINTOS

XISTO 2003 Roquette&Cazes – Douro, Portugal – Prêmio Coup de Coeur – Vin Rouge Exceptionnel
CASA DE CASAL DE LOIVOS 2003 – Lemos&Van Zeller – Douro, Portugal – Lemos&Van Zeller – Prêmio Coup de Coeur – Vin Rouge Exceptionnel
ZUCCARDI ZETA 2002 – Familia Zuccardi – Mendoza, Argentina

BRANCOS

OESTRICH DOOSBERG RIESLING 2004 – Peter Jakob Khün – Alemanha – Prêmio Coup de Coeur – Vin Blanc Exceptionnel
CUVÉE DU LOUP 2004 – Domaine Jas d’Esclans – AOC Côtes de Provence – França
BRUXUS SAUVIGNON 2002 – Domaine Louis Bovard – AOC de Vilette – Suíça
VINIFERA SAUVIGNON 2004 – H. Marionnet – AOC Touraine – França

ROSÉS

VIEILLES VIGNES 2004 – Domaine St André de Figuière – AOC Côtes de Provence – França
“R”DE RIMAURESQ 2004 – Domaine de Rimauresq – AOC Côtes de Provence – França
ENATE CABERNET SAUVIGNON 2004 – B. Enate – Somontano – Espanha

AGUINALDO ZÁCKIA ALBERT

Publicado na edição # 62 da revista VINHO MAGAZINE de setembro de 2005

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