Degustadores Sem Fronteiras | O MERCADO FUTURO DE BORDEAUX: UM INVESTIMENTO PARA EXPERTS
3294
post-template-default,single,single-post,postid-3294,single-format-standard,ajax_fade,page_not_loaded,

BLOG

O MERCADO FUTURO DE BORDEAUX: UM INVESTIMENTO PARA EXPERTS

16 jul 2004, Posted by degustadoresfronte in Notícias e Artigos

Bordeaux é a região produtora de vinho mais reputada do mundo e, além de ter uma longa tradição de qualidade, tem um sistema de classificação de vinhos que remonta a 1855, quando Napoleão III o instituiu, e que permanece praticamente inalterado até hoje. O sistema é complexo e foi baseado no preço que custavam os melhores vinhos na época, e que refletiam a qualidade dos mesmos. Os melhores vinhos do Médoc e Graves, considerados as blue chips do mercado, foram agrupados em categorias que vão dos Premiers Crus (Château Lafite-Rothschild, Château Latour, Château Margaux, Château Haut-Brion e, incluído na lista em 1973, Château Mouton-Rothschild) aos Cinqüième Crus. Os vinhos da margem direita do rio Garonne — Saint-Émillion e Pomerol, onde predominam as uvas Merlot e Cabernet Franc — foram classificados de forma diversa anos mais tarde.

Os Bordeaux são vinhos de grande estrutura elaborados principalmente a partir das uvas Cabernet Sauvignon e Merlot (majoritárias), Cabernet Franc, Malbec e Petit Verdot, com vocação para longa guarda. Estas características possibilitaram que se desenvolvesse um tradicional mercado de commodities envolvendo esses vinhos. Assim , investidores pagam por um produto que ainda não chegou ao mercado na expectativa de auferir lucros futuros acreditando na qualidade da safra comprada. Não se compra vinho, mas o direito de posse do vinho quando for lançado no mercado.

A elaboração dos vinhos se inicia por volta de fim de setembro-início de outubro, ainda durante a colheita. O processo de fermentação e maceração pode durar até 30 dias ao final dos quais o vinho é filtrado e vai iniciar seu estágio de afinamento em barricas (225 litros) de carvalho francês. Este estágio dura de 12 a 24 meses. Estes vinhos serão degustados em fins de março do ano seguinte (ainda nas barricas pois não foram engarrafados) e os preços começam a chegar ao mercado em maio. É, evidentemente, um mercado de risco em que se pode ganhar ou perder. Quem comprou, por exemplo, Château Cheval-Blanc 1982 en primeur (como dizem os franceses) no ano de 1983, desembolsou U$ 350 por uma caixa, e pôde vendê-la em leilão, em 1999, por cerca de U$ 9 500. Nada mal para um investimento cercado de tanto charme! Está claro que outras compras deram lucro menor ou mesmo algum prejuízo, fazendo com que o investidor “caísse do cavalo”. Branco, no caso.

A safra de 2003, que vem sendo considerada pelos experts como sendo de alta qualidade, chega agora ao mercado de negociantes com preços bastante elevados, suplantando em muito a safra de 2002. No início de junho os cinco grandes nomes de Bordeaux — os premier cru classé Château Lafite Rothschild, Château Margaux, Château Mouton-Rothschild, Château Haut-Brion e Château Latour anunciaram seus preços de venda aos negociantes. Os quatro primeiros venderão seus vinhos a 120 euros a garrafa e o último a 130 euros. Ou seja, o dobro do preço de lançamento da safra de 2002, que girou entre 60 e 65 euros.

O mesmo movimento se observa nos outros Crus Classés que vêm logo abaixo, com um aumento de preço por volta de 30%, embora o Cos-d’Estournel tenha mais que dobrado sua cotação. Ainda no Médoc, merece destaque a região de St.-Estèphe, que neste ano surpreendeu pela alta qualidade de seus tintos, alguns deles , como o Château Montrose e o Château Calon-Ségur, chegando a triplicar seus preços.

Convém lembrar que tais preços são iniciais e se referem a vinhos que ainda se encontram estagiando em barricas de carvalho em seus châteaux . Além disso, são ofertados apenas aos negociantes que deverão adicionar a eles suas margens de lucro, o que deverão também fazer os importadores, distribuidores e varejistas. De um modo geral, os preços chegam ao consumidor final , no mercado norte-americano, 250% mais caros do que o seu preço de lançamento em Bordeaux.

Quanto ao investimento, uma coisa é certa: ele não vai “virar pó″. Afinal, em caso de prejuízo, resta o consolo de afogar as mágoas em deliciosos goles dos melhores vinhos do mundo. Quem se habilita?

AGUINALDO ZÁCKIA ALBERT

Publicado na edição # 53 da Revista Vinho Magazine, de julho de 2004

Post a comment