Degustadores Sem Fronteiras | O CENÁRIO DO MERCADO NORTE-AMERICANO DE VINHOS IMPORTADOS
3266
post-template-default,single,single-post,postid-3266,single-format-standard,ajax_fade,page_not_loaded,

BLOG

O CENÁRIO DO MERCADO NORTE-AMERICANO DE VINHOS IMPORTADOS

16 ago 2003, Posted by degustadoresfronte in Notícias e Artigos

Recente artigo do New York Times, assinado por Frank J. Prial, nos mostra um panorama muito interessante do gigantesco mercado consumidor de vinho dos EUA, onde importantes mudanças têm ocorrido nos últimos tempos. Como já era de se esperar, os vinhos franceses estão enfrentando tempos extremamente difíceis por aquelas plagas.. A principal causa é, sem dúvida, a oposição de Chirac à invasão do Iraque. Mesmo que não se descubra o tão falado “arsenal de armas químicas e de destruição em massa” que serviu de pretexto para a guerra, o vinho francês vem sofrendo um forte boicote de cerca de 30% dos consumidores ianques

Na verdade, a situação já não era boa, tendo apenas se agravado recentemente. O complicado sistema de leitura de rótulos francês (com ênfase na região e não na uva), a forte queda do dólar frente ao euro (19% no último ano) e a forte concorrência dos bons vinhos do Novo Mundo só fizeram piorar as coisas. Como conseqüência os vinhos gauleses, que detinham 30% do mercado americano em 1992, hoje dominam apenas 18,4%. Uma queda, sem dúvida, extremamente dramática.

De acordo com relatório publicado em abril de 2003 pela revista norte-americana Impact, especializada em comércio internacional, das 10 marcas de vinhos importadas pelos EUA apenas uma era francesa. E a situação deve ter piorado, pois os dados se referem ao ano de 2002. Esta marca era a Georges Duboeuf, importante nome do Beaujolais e também grande produtor de vinhos de baixo custo na região do Languedoc-Roussillon. Mesmo assim Duboeuf caiu, pois era o sexto em 2001 e hoje é apenas o oitavo.

Vale a pena dar uma olhada na lista dos 10 mais. Em primeiro lugar a chilena CONCHA Y TORO, com o expressivo número de 2,1 milhões da caixas, seguida da italiana RIUNITE que, além de seus Lambruscos exporta também vinhos simples e extremamente frutados com nomes sugestivos como Peach Chardonnay ou Strawberry White Merlot. Outro italiano vem em terceiro, a CAVIT, que tem em seu Pinot Grigio seu carro chefe, uma uva, aliás, que vem abocanhando um bom espaço da Chardonnay. Dois australianos surgem em quarto e quinto postos, a ROSEMOUNT e a LINDEMAN’S, representando um país que teve forte aumento em suas exportações.

Comandando o segundo bloco, em sexto lugar, mais uma empresa australiana, a CASELLA, que produz seus vinhos na nova região emergente de Southeastern Austrália. Seus vinhos são vendidos com o rótulo Yellow Tail. São varietais elaborados com as uvas Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Merlot e Shiraz, todos de bons preços. A italiana BOLLA aparece em sétimo posto, seguido pelo já citado GEORGES DUBOEUF, em oitavo.

Os dois últimos classificados na lista dos 10 mais são vinícolas italianas de capital americano. BELLA SERA e ECCO DOMANI, ambas pertencentes ao gigantesco grupo E&J GALLO, maior produtor de vinhos do mundo. As duas empresas somadas mandam para os EUA cerca de 2 milhões de caixas de vinho, com destaque para o Pinot Grigio, além dos vinhos Merlot, Cabernet Sauvignon, Sangiovese e Chianti.

Vale notar que a grande maioria dos vinhos da lista está na faixa de preço situada abaixo da linha dos U$ 10,00. São vinhos dirigidos ao grande público consumidor e que apresentam boa relação qualidade-preço. A perspectiva para 2003 é que italianos e australianos disputem o primeiro lugar com os chilenos, podendo mesmo ultrapassá-los. Além disso, há uma forte migração dos consumidores de vinhos da casta francesa Chardonnay para a italiana Pinot Grigio. Será mais um sinal dos tempos?

AGUINALDO ZÁCKIA ALBERT

Publicado na revista VINHO MAGAZINE # 44 – Agosto/2003

Post a comment