Entrevista com o diretor de exportações do Champagne Henriot Luc Bouchard
16 jun 2016, Posted by Notícias e Artigos, Uncategorized inEntrevista com o diretor de exportações do Champagne Henriot Luc Bouchard
por Aguinaldo Záckia Albert
O evento organizado pela importadora VINCI, que aconteceu em São Paulo nos dias 24 e 25 de maio, trouxe até nós uma série de figuras importantes do mundo do vinho. É o caso de Luc Bouchard, da nona geração da tradicional família de vinhateiros da Borgonha (Bouchard et Fils), que responde hoje pelas exportações da Maison Henriot, da Champagne.
Muito simpático e comunicativo, Luc Bouchard nos concedeu uma boa entrevista.
Aguinaldo Záckia: A Maison Henriot é muito tradicional e bem conhecida na França, mas chegou há pouco tempo por aqui. Poderia nos falar um pouco sobre ela?
Luc Bouchard: A Henriot tem uma grande tradição em Champagne, pois foi fundada em 1808 – e isso é bastante tempo –, mas chegou ao Brasil há apenas 2 anos, trazida pela importadora Vinci. É natural que isso aconteça.
AZ: As vendas de vinhos espumantes têm aumentado ano a ano no Brasil, principalmente quando falamos de espumantes de preços mais acessíveis como os Proseccos e os vinhos espumantes brasileiros. Como o sr. encara nosso mercado no que se refere ao champanhe, um espumante mais sofisticado e caro, um produto de luxo?
LB: Sem dúvida. Posso lhe afirmar que as vendas de champanhe para o Brasil têm progredido, sendo hoje parte importante do total de vinhos exportados para cá, e nós estamos tirando bom proveito disso. Trata-se de um mercado difícil, já que há muitas taxas de importação que oneram o produto. O foco principal são os amantes dos bons vinhos e os bons restaurantes. O fato de o champanhe em geral já ser bem conhecido no Brasil é um fato favorável. Não é como a China, por exemplo, que é um mercado aberto recentemente.
AZ: Li recentemente na revista inglesa Decanter que há produtores se mobilizando para ensinar os chineses a beber vinhos espumantes. A Moët & Chandon, que além de exportar para o país tem uma joint venture em andamento com empresários chineses para produzirem vinhos espumantes pelo método clássico, tem um projeto nesse sentido. A propósito, como estão as vendas da Henriot na China?
LB: Temos vendido bem lá através de nosso importador de Hong Kong.
AZ: As mudanças climáticas são favoráveis a algumas regiões – como o sul da Inglaterra, por exemplo, onde a produção de espumantes começa a se desenvolver –, mas creio que não seja o caso da Champagne, onde ter um clima mais frio é importante. O champanhe tem um estilo único. Você acha que, a longo prazo, isso possa se perder com essas mudanças?
LB: É difícil responder a esta pergunta no longo prazo. O que sei é que a equipe técnica da Henriot sabe se adaptar bem a situações novas. Por exemplo, caso haja um ano com um aquecimento maior, nós poderemos colher as uvas mais cedo para preservar sua acidez. O vinhedo de Champagne é bem setentrional. Não creio que tenhamos problemas.
AZ: Mas se porventura começarem a produzir vinho na Polônia ou na Escandinávia acho que você deveria se preocupar. Eu cheguei há poucos dias da Itália e pude visitar excelentes produtores de espumantes elaborados pelo método clássico no Trento e em Franciacorta. Confesso que fiquei muito bem impressionado. Como o sr. encara essa concorrência?
LB: Nós trabalhamos duro para ter um vinho de qualidade e a concorrência não nos tem afetado. Considero a concorrência boa, pois nos faz trabalhar melhor. Nossas técnicas, nossos métodos, nossas variedades de uva podem ser exportados, mas nosso terroir permanece lá, e ele é único.
AZ: Outra questão que eu acho importante, o aumento da zona produtora AOC de Champagne que está em curso. Como caminha este projeto? A qualidade dos vinhos vai se manter?
LB: Isso está sendo feito de uma forma muito séria. Fizemos muitos estudos prévios, é um projeto que não será feito do dia para a noite. Há o tempo para plantar, colher as frutas…
AZ: Quando vamos ter a produção dessas novas zonas?
LB: Os vinhedos ainda não foram plantados. Teremos ainda um bom tempo pela frente.
AZ: A história recente do champanhe é a de um sucesso constante, ao contrário do que ocorreu com outras regiões de vinhos da França, que tiveram que encarar uma forte concorrência de outros países. Mas com a crise mundial de 2008 as exportações da região sofreram bastante, com uma queda de até 30%. Como estão hoje as vendas em Champagne? Houve recuperação?
LB: Sem dúvida. As exportações hoje vão muito bem. Creio que muito da queda se deveu ao fato de o champanhe ser um vinho festivo, de celebração… Um certo pudor impediu que muita gente abrisse garrafas de champanhe em restaurantes para comemorar alguma coisa quando em volta havia tanta tristeza… Mas agora tudo vai bem. Os mercados mundiais retomaram suas compras, os EUA, a Europa e outras regiões.
AZ: M. Luc Bouchard, eu agradeço a sua atenção. Foi um prazer poder entrevistá-lo para o site dos Degustadores sem Fronteiras.
LB: Para mim foi um grande prazer.