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BORGONHA E BORDEAUX, O TAO DO VINHO DA FRANÇA

16 ago 2010, Posted by degustadoresfronte in Notícias e Artigos

Não é por acaso que, quando se busca uma referência em termos de vinho de qualidade, França é o primeiro nome que nos ocorre. Uma série fatores conspiram para que isso ocorra: a grande variedade de climas e solos espalhados por seu vasto território (a França é o segundo maior país da Europa, atrás apenas da Rússia); uma gama de variedades de uvas de alta qualidade, caráter e adaptabilidade; sua longa história ligada ao vinho.
Isso sem falar da paixão gaulesa pelos prazeres da mesa. Comida e vinho talvez sejam os assuntos mais recorrentes de suas conversas. São como o futebol, para nós, brasileiros, ou as condições do tempo, na conversa entre os ingleses. O interesse pelas coisas do amor completaria o retrato desse povo tão sensual, amante das boas coisas da vida.

Mas é bom não esquecermos da outra face francesa, o seu lado racional. O filósofo Descartes não por acaso nasceu ali, e iniciou a longa vertente do Racionalismo na história do pensamento ocidental. As ciências e o Iluminismo são o reflexo dessa cultura tanto quanto o rigoroso sistema de Denominações de Origem Controlada de seus vinhos, o grande segredo da manutenção da qualidade de seus vinhos, e que serviu de padrão, bem mais tarde, para outros países ansiosos por seguir por essa trilha.

Champagne, Vale do Rhône, Alsácia, Loire. São tantas e tão variadas as suas zonas de bons vinhos que mal teríamos espaço em uma edição para tratar de todas elas. Tais circunstâncias nos levam a abordar as suas duas regiões mais emblemáticas, rivais há séculos pelo glória de produzir os melhores néctares franceses: Bordeaux e Borgonha.
DUAS REGIÕES, DOIS PERFIS QUE SE OPÕEM E SE COMPLETAM

DOMAINES E CHÂTEAUX

Borgonha e Bordeaux são duas antípodas do vinho francês. No entanto, apesar de tantas oposições e de produzir vinhos tão distintos entre si, cada uma é , a seu modo, exemplo de excelência de qualidade vinícola.

As propriedades vinícolas da Borgonha são geralmente denominadas “Domaines”. A presença da Igreja na região sempre foi preponderante, sendo ela proprietária da maior parte das terras. A Côte d´Or, região vinícola mais nobre da Borgonha, abrigava várias abadias e centros religiosos de renome. Seus monges eram os grandes enólogos da época, dominando como ninguém as técnicas vinícolas. Com a Revolução Francesa (1789), os religiosos foram expulsos e as terras clericais divididas e distribuídas. Um pouco mais tarde, com Napoleão, as poucas propriedades que ainda restavam sob o controle da Igreja foram também dividas, tendo como resultado uma enorme fragmentação dos vinhedos, dando origem ao perfil atual da região de pequenas e múltiplas propriedades, fazendo surgir a figura do “ Négociant”. Para se ter uma idéia da pulverização da propriedade nas terras borgonhesas, o famoso vinhedo dos monges de Clos de Vougeot, um dos mais famosos grand crus da região, que tem 50 ha de área, está hoje fracionado entre 60 proprietários.

Já em Bordeaux as propriedades são bem maiores e são chamadas de “ Châteaux”. O château refere-se não apenas ao eventual castelo, sede da propriedade, mas a todo seu complexo: vinhedos, cantina, adega, etc.. O edifício sede pode ser um castelo luxuoso e construído em grande estilo, como o Château Lafite-Rothschild ou o Château Margaux, por exemplo, ou uma casa senhorial, uma velha casa rústica ou ainda, em raros caso, pode mesmo não existir, como é o caso do Château Léoville-Barton.

Dada a sua proximidade da Inglaterra (Bordeaux fica mais perto de Londres do que de Paris!), a influência da Igreja na região foi muito menor, uma vez que, por muito tempo, sua população foi majoritariamente protestante. Não havendo terras eclesiásticas a serem divididas, teve-se como resultado porções de terreno significativamente maiores em cada propriedade. Além disso, a área total dos vinhedos bordaleses é mais de cinco vezes maior do que o da Borgonha.
Bordeaux é a região francesa que concentra a maior quantidade de grandes propriedades vinícolas. Diferentemente da Borgonha, aqui os vinhedos são extensos, muitos deles ao redor de châteaux, castelos que servem de sede para as grandes casas produtoras. Muitas vinícolas adotaram o nome château mesmo não possuindo um castelo, tão grande é a associação feita entre vinhos de Bordeaux e os castelos.

A DICOTOMIA RELIGIOSA

Também aqui as duas regiões se opõem. A Borgonha é a “França Profunda”, católica e eminentemente religiosa. Terra dos grandes monastérios como a Cluny dos monges cistercienses, a maior sede católica em todo o mundo, posteriormente quase que totalmente destruída pelos revolucionários que cantavam a “ Marselhesa”. Sua ligação com Paris, a partir da Idade Média, foi sempre muito estreita, ao contrário da distante Bordeaux.
A cultura dos mosteiros católicos, responsável por grandes avanços em regiões interioranas como a Borgonha e também Champagne, aqui foi substituída pela influência mercantil de ingleses e holandeses protestantes.A exportação de vinhos, inicialmente para esses dois países, e depois para todo o planeta, foi sempre o principal foco desses produtores.

YIN E YANG, FEMININO E MASCULINO: O ESTILO DO VINHO

Entendo que a metáfora é uma das formas mais adequadas de expressar as coisas do vinho. Na hora da degustação, uma imagem poética muitas vezes diz muito mais do que uma assertiva puramente técnica para captar a alma de um vinho. Feminino e masculino são adjetivos largamente usados (e aceitos) para representar as características dos vinhos tintos dessas duas regiões.

Elaborado com apenas uma uva, a delicada e caprichosa Pinot Noir, o vinho da Borgonha tem as virtudes (e talvez também os defeitos, se considerarmos a inconstância…) do eterno feminino. São menos tânicos e ásperos do que os seus primos bordaleses, que guardam bem a marca de sua uva predominante, a adstringente Cabernet Sauvignon, ainda que mitigadas pela redondez da Merlot e da Cabernet Franc e as notas da Malbec e da Petit Verdot.

Mais claros e delicados, com aromas lembrando morangos, terra molhada e couro, os vinhos da Borgonha mostram uma deliciosa vivacidade e são parceiros soberbos para uma ampla gama de pratos. Mas, como diria Verdi, “ La donna è mobile, qual piuma al vento”. Um grande Borgonha pode ser magnífico, se puder contar, além de seu terroir, com condições climáticas favoráveis, ou decepcionante, se as condições forem adversas. Na verdade, é o vinho que, para o bem ou para o mal, mais surpreende. Um pequeno vinho da Borgonha de uma safra mediana para fraca é meio caminho andado para o desapontamento. A relação Qualidade/Preço costuma ser desfavorável ao consumidor quando comparamos com os Bordeaux.

Os masculinos Bordeaux, principalmente os da margem esquerda do Medoc, são mais tânicos e viris, cheios de vigor e demoram muito mais tempo para perder o seu charme se comparados com os da Borgonha. Os crus bordaleses são sem dúvida mais longevos. É mais fácil de se acertar aqui. O clima é mais doce, o vinho é feito com uma mescla de uvas (e não com uma só), o que possibilita uma maior margem de manobra para que o enólogo “ acerte” o seu vinho. Os grandes são amplos, ricos e longevos; os menores , na sua maioria, no mínimo corretos. Mas quando o assunto é a expressão fiel de um terroir a láurea vai para os grandes da Borgonha.

A TRADIÇÃO E O CHARME DA BORGONHA

Não se sabe ao certo quem introduziu a vinha nessa região situada bem no coração da França, mas podemos afirmar que os invasores romanos já a encontraram ali quando chegaram, por volta do século II d. C.. Os povos celtas que a habitavam já cultivavam a vinha nessa época e a influência romana foi fundamental para que se produzisse bom vinho na região. Dados históricos nos permitem falar em uma vitivinicultura borgonhesa desenvolvida em termos comerciais já no século IV.

Com a desintegração do Império Romano, a região foi tomada por uma série de povos bárbaros vindos do norte. Sucessivamente Francos, Alamanos e Vândalos invadiram a região, chegando depois os Burgúndios, povo originário da Escandinávia, que ali se fixou e emprestou seu nome a essas terras formando um grande reino que se estenderia de Dijon a Lyon.

Esse povo tomou para si a tradição romana da vitivinicultura e a conduziu pela história. Mais tarde, com a conversão da população local ao cristianismo, coube à Igreja, principalmente aos monges beneditinos de Cluny, cuidar com carinho da manutenção dos vinhedos e da produção do vinho.

Resumindo bastante a história, o vinho da Borgonha chega aos nossos dias como um dos dois vinhos mais prestigiados da França – dividindo as preferências com os vinhos de Bordeaux—e de todo o mundo.

O paralelo existente entre as duas regiões é bastante curioso e merece ser citado. Se em Bordeaux nós temos uma forte influência protestante, devido à sua proximidade com a Inglaterra, na Borgonha a presença da Igreja e de seus monges –os grandes “ enólogos” da Idade Média – é fortíssima. Em Bordeaux encontramos propriedades relativamente grandes, chamadas de Châteaux; na Borgonha predominam as pequenas propriedades, geralmente com gestão familiar, normalmente denominadas Domaines. Os vinhos bordaleses – tanto os tintos quanto os brancos— são vinhos de corte ou mescla onde entram várias uvas; o da Borgonha é mono-varietal. Os tintos de Bordeaux, onde predominam as uvas Cabernet Sauvignon e a Merlot, são mais adstrindentes, viris e longevos, sendo tradicionalmente associados aos valores masculinos; na Borgonha o vinho é mais amável e delicado, o que leva a ser definido como mais feminino. Como se pode ver, as diferenças não são poucas entre as duas mais notáveis regiões francesas, e no entanto os vinhos de ambas podem ser formidáveis, cabendo ao gosto de cada um fazer a escolha.

O aficionado do vinho é muitas vezes surpreendido por vinhos medíocres, pelos quais pagou uma soma considerável, e dos quais esperava muito mais. Por outro lado, a experiência de se degustar um grande Borgonha proporciona um prazer enorme e muitas vezes inesquecível. É nesse terreno incerto, de altos e baixos, que deve se mover o enófilo para fazer sua escolha, sendo desnecessário dizer que uma boa dose de experiência é muito importante para evitar surpresas. Denominações de origem, crus, produtores, safras, em nenhuma outra região uma análise é tão importante para se fazer uma escolha quanto na terra da caprichosa uva Pinot Noir.

Conhecida pela excelência de seus vinhos, a Borgonha é também considerada a capital gastronômica da França. Notável pela beleza de sua paisagem, seu patrimônio histórico e arquitetônico medieval é riquíssimo e a beleza de cidades como Beaune é inesquecível.Os resquícios da antigo esplendor não é facilmente encontrado quando se viaja pelo campo, e o que se vê hoje é a beleza simples e rústica de seus campos e construções. As grandes propriedades não mais existem; deram lugar a pequenos lotes de terra depois que Napoleão realizou a sua reforma agrária, dividindo as terras da Igreja. A fragmentação dos vinhedos hoje é tão grande que a média das propriedades é de pouco mais de 1 hectare.
BORGONHA EM NÚMEROS

Extensão dos vinhedos – 24 000 hectares
Produção – 1 200 000 hl/ano
Cor dos vinhos – 52% brancos/ 48% tintos

ROMANÉE-CONTI, O GRANDE VINHO MÍTICO DA BORGONHA

Produzido pelo Domaine de la Romanée-Conti, que tem sua sede em Vosne-Romanée, o vinho Romanée-Conti é uma verdadeira legenda para os aficionados dos grandes vinhos. A história do vinhedo tremonta ao século III, época em que os romanos dominavam a Galia, daí a origem do “romanée” do nome (que significa “romanizado”). Os documentos históricos começam a surgir mais tarde, no século XI, quando o vinhedo pertencia aos abades do mosteiro de Saint-Vivant de Veregy.

Passando por vários donos, o vinhedo foi vendido em 1760 para o Príncipe de Conti, que acabou agregando seu nome ao até denominado Romanée. Atualmente, é um negócio de família, transmitido por herança desde 1869, quando M. Duvaut-Blochet o adquiriu, sendo o M. Aubert de Villaine, o atual proprietário, seu descendente direto. A empresa tem como sócia a família Leroy.

Uma série de fatores faz dele o mais reverenciado e um dos mais caros vinhos do mundo: Alta qualidade, terroir irrepreensível (solo calcário com altitude, inclinação e drenagem perfeitas), cuidado na vinificação, vinhedo exíguo (1,8 hectare) e pequena produção (apenas 5 000 garrafas/ano) a ser disputada por um público ávido por degustá-lo.

O importador que quiser comprar uma garafa desse precioso vinho deve levar outras onze de tintos do produtor, todos também de alta qualidade: La Tâche, Richebourg, Romanée-St-Vivant, Échezaux e Grands-Échezaux . O fantástico e raríssimo branco Le Montrachet é vendido à parte.
OUTROS GRANDES NOMES DA BORGONHA

Domaine du Comte de Vogüé (Chambolle-Musigny), Domaine Leroy (Vosne-Romanée), Domaine Marquis d Angerville´(Volnay), Domaine Dujac (Morey-Saint-Denis), Domaine Claude Dugat (Gevrey-Chambertin), Domaines Comtes de Lafon (Meursault), Domaine Joblot (Givry), Louis Jadot.

Localização, solo e clima

É surpreendente que uma região localizada numa zona de clima tão frio e hostil (estamos falando do paralelo 47º de latitude norte!) possa produzir vinhos tintos de tão alta qualidade.

O clima da Borgonha é do tipo continental , com invernos bastante rigorosos e primaveras sujeitas a muitas geada. Devido à situação favorável de seus vinhedos, localizados em encostas com declives suaves e com boa exposição ao sol (orientados nos sentidos sul, sudeste e leste), as uvas ficam protegidas das geadas e dos ventos, o que torna possível que o cultivo da vinha tenha sucesso. Os outonos secos e os verões quentes vão também contribuir para a maturação das uvas. A média anual de pluviosidade é de 690 ml.

A altitude média da região é de 220 metros. São muitas as variedades de solos na região, predominando no entanto os sub-solos calcários e pedregosos. Tais composições de solo mudam em distâncias relativamente curtas, e, associadas às variáveis microclimáticas, vão produzir um grande número de terroirs, fator determinante para que haja um grande número de denominações de origem e de crus.
O CONCEITO DE “TERROIR”

Como a nossa saudade portuguesa, o conceito de terroir não é de fácil tradução, e é muito caro aos franceses, principalmente aqueles da Borgonha. Não se trata apenas do solo, do terreno, mas a eles devemos somar a idéia das substâncias que compõem o sub-solo, a inclinação do terreno, sua drenagem e inclinação, e outros conceitos microclimáticos, como a insolação. A todos esses fatores deve-se acrescentar até mesmo o fator humano, as características culturais do homem que ali trabalha. Dessa forma, o verdadeiro vinho borgonhês deve expressar seu terroir antes de qualquer coisa. Para que isso aconteça, vários preceitos são seguidos : uso de leveduras naturais, baixa produção, pouca ou nenhuma filtragem, uso moderado do carvalho, etc.
REGIÕES

Apesar de sua área produtora não ser muito extensa (representa apenas 1/6 parte da de Bordeaux), são produzidos ali alguns dos melhores vinhos da França. E também, na média, os mais caros. Eis os seus principais vinhedos da Borgonha, caminhando do Norte para o Sul:

1- Chablis – (4 000 ha) É a região mais setentrional da Borgonha, 160 km ao norte de Beaune, bem próxima de Paris e da Champagne. O clima da zona é tremendamente rude e frio, e no entanto é capaz de produzir brancos formidáveis. O segredo é sua geologia: o afloramento da camada superior de uma grande área submersa de calcáreo, fruto de um acúmulo de conchas de ostras que remontam à pré-história. Como se vê, a combinação clássica Chablis-ostras tem uma origem mais longínqua e insuspeitada do que se poderia imaginar.
O Chablis é um vinho duro, mas não áspero, que nos faz recordar minerais e pedras, ao mesmo tempo que se associa ao feno verde. Um Chablis Grand Cru tem grande personalidade, é austero, longo, envelhece bem e vai ganhando um leve e delicioso amargor com a idade, perdendo aos poucos seus reflexos verdes, uma de suas marcas registradas.
O Chablis divide-se em 4 grupos: os Grands Crus, mais ricos em sabor, originários de uma região mais ao sul e a oeste, que rodeia o rio e o pequeno povoado de Chablis. São vinhos que alcançam notável complexidade com a idade. O Les Clos e o Vaudésir são os melhores. Os Premiers Crus vêm logo a seguir, sendo menos intensos em aroma e sabor do que os primeiros, e com teor alcoólico mais baixo. Ainda assim, são muito bons. Seguem-se o Chablis comum e o Petit Chablis, este de poucos atrativos.

2 – Côte d ‘Or – Faixa estreita de encostas situada no centro da Borgonha, se estende de Dijon a Santenay.. Produz tintos e brancos notáveis. Divide-se em duas partes: Côte de Nuits (ao norte, 1 500 ha) e Côte de Beaune (ao sul, 3 000 ha), e é o mais rico e afamado dentre os vinhedos da região.
Na Côte de Nuits (1 500 ha) vamos encontrar os tintos mais ricos, longevos e de maior prestígio. É a região de Chambertin, Gevrey-Chambertin, Morey-Saint-Denis, Chambolle-Mussigny, Vougeot, Vosne-Romanée (onde se produz o legendário Romanée-Conti) e Nuits-St-Georges.
A Côte de Beaune (3 000 ha) produz os melhores brancos do planeta, todos à base de Chardonnay, sendo seus principais vinhedos Aloxe-Corton (berço do Corton-Charlemagne), Pommard (produtor de tintos), Volnay, Mersault, Puligny-Montrachet (onde vamos encontrar o melhor, mais famoso e caro dos brancos, o Montrachet) e Chassagne-Montrachet.

3 – Côte Chalonnaise ( 1 500 ha) – Mais ao sul, e menos importante que a anterior, estão ali Rully, Mercurey, Givry e Montagny, pequenos vilarejos produtores de vinhos brancos e tintos com melhores preços.

4 – O Mâconnais (5 000 ha) – Junto ao rio Saône encontramos a cidade de Mâcon, 55 km ao sul de Chalon. Produz o Mâcon, tinto e branco, vinhos com menos atrativos do que os anteriores. Já o Pouilly-Fuissé (sempre branco) é um vinho delicado e muito interessante.Outros Crus : Pouilly-Vinzelles, Pouilly-Loché e Saint-Veran.

5 – O Beaujolais (22 000 ha) – Vale aqui como uma citação. É o vinhedo que fica mais ao sul, próximo à Côte-du-Rhône, ao norte de Lyon, e poderia merecer um capítulo à parte. Em termos administrativos, o Beaujolais é parte da grande Borgonha, mas se formos analisar seu clima, topografia, tipos de solo e variedades de uvas plantadas, as diferenças são muitas. Sua produção é bem maior do que todos os vinhedos situados ao norte somados (mais de 1 milhão de hl), basicamente originária da uva Gamay. O Beaujolais é um vinho leve, frutado, agradável mas de pouca complexidade. Um vinho para ser bebido, não para ser degustado, como observa muito bem Lichine. Pode ganhar as seguintes denominações: Beaujolais (denominação básica e mais comum); Beaujolais Supérieur (quando o teor alcoólico atinge os 10,5); Beaujolais-Villages ( produzido nas colunas ao norte, originário de uma cidade (ou comuna) apenas; Crus de Beaujolais (os de qualidade superior, com 10 denominações possíveis) e o emergente Beaujolais Nouveau, fruto de fermentação carbônica e de vida curtíssima.

AS UVAS
PINOT NOIR – É a grande uva tinta da Borgonha. Uva delicada, de difícil adaptação em outras áreas do mundo, é uma variedade que sofre tremendamente com as mudanças ambientais, sendo notoriamente complicada para ser trabalhada depois de colhida, já que sua casca se rompe facilmente. Amante dos climas frios, produz vinhos finos e elegantes, de taninos aveludados de média e longa guarda. Quando jovem, mostra aromas e sabores de frutas vermelhas frescas (morango, framboesa, cereja). Na Borgonha, quando o vinho está mais maduro, surgem os aromas florais (violeta), caça, couro, alcaçuz e sous bois (misto de terra úmida , cogumelos e folhas em decomposição).

GAMAY – Uva de alta produção típica da região do Beaujolais. Dá origem a vinhos leves e frutados de curta guarda. Na Appellation d’ Origine Controlée Bourgogne Passetoutgrain entra na proporção de 2/3 do vinho somados a 1/3 de Pinot Noir. É também utilizada na elaboração dos AOC Mâcon tintos.

CHARDONNAY – Conhecida como a “Rainha das uvas brancas”, ao contrário de sua conterrânea tinta Pinot Noir se adapta muito bem em várias regiões do mundo. É pequena , redonda, ambarina e transparente ao amadurecer, ganhando muito com o estágio em carvalho. Os vinhos produzidos com ela na Borgonha são tidos como os melhores brancos do planeta. Os grandes são muito ricos e complexos, com boa fruta e notas de baunilha e manteiga. Extremamente elegantes, podem envelhecer com grande dignidade.

ALIGOTÉ – Uva autóctone, é a segunda uva branca da região, sempre eclipsada pela majstosa Chardonnay. Produz vinhos frescos e agradáveis, mas pouco complexos. Muito comum no leste europeu (Romênia, Bulgária, Moldávia), vem perdendo terreno para a Chardonnay na Borgonha. Com ela se produz o vinho Appellation Bourgogne Aligoté e o espumante Appellation Crémant de Bourgogne.
SISTEMA DE DENOMINAÇÕES DA BORGONHA

Sistema constituído pelo INAO – Institut National des Appellations d’Origine – baseado em classificações de mais de 100 anos e postas em mapa em 1984. O INAO controla também as uvas utilizadas, a produção por hectare, o teor alcoólico e a qualidade dos vinhos. Na Borgonha vamos encontrar 96 vinhos AOV e um VDQS. Assim como em Bordeaux, não existem vinhos das categorias Vin de Table e Vin de Pays.

Segue abaixo, em ordem de hierarquia crescente, a classificação dos vinhos da Borgonha.

I – DENOMINAÇÃO REGIONAL
Denominação mais simples e genérica. Uvas colhidas no território da Borgonha em zonas especificamente delimitadas.
Ex.: APPELLATION BOURGOGNE CONTROLLÉE
a- Pode denominar a casta. Ex. : BOURGOGNE ALIGOTÉ, BOURGOGNE PASSE-TOUT-GRAIN
b- Pode denominar o método de elaboração. Ex.- CRÉMANT DE BOURGOGNE
c- Ou uma sub-região. Ex.: BOURGOGNE CÔTE CHALLONAISE, BOURGOGNE HAUTES CÔTES DE BEAUNE.

II – DENOMINAÇÃO COMUNAL
Nome dado por grande número de comunas (pequenos municípios) ao vinho produzido em certas regiões de seu território. Ex: CHABLIS, MEURSAULT, VOSNE-ROMANÉE
Nessas comunas os vinhedos são divididos em parcelas chamadas “CLIMATS”, cujos nomes são muitas vezes acrescentados ao nome da comuna no rótulo do vinho. Quando essas parcelas são cercadas por muros são chamadas de “ CLOS”, como os famosos Clos de Vougeot e Clos de la Roche, e ganham a denominação Grand Cru.

III – DENOMINAÇÃO PREMIER CRU
Pela qualidade de seu terroir certos climats são classificados como PREMIERS CRU. O nome do climat aparece no rótulo associado ao nome da comuna, representando o conjunto de uma AOC – APPELLATION D’ORIGINE CONTROLLÉE
Ex. – VOSNE-ROMANÉE 1er CRU LES CHAUMES – Premier Cru situado na comuna de Vosne-Romanée

IV – DENOMINAÇÃO GRAND CRU
Quando o vinho é originário de um climat excepcional. Nesse caso, graças à sua fama, seu nome é suficiente para designá-lo e constitui uma AOC .
Ex. – APPELLATION ROMANÉE-CONTI CONTROLLÉE

TABELA DE SAFRAS DA BORGONHA*

  CÔTE D´OR TINTO CÔTE D´OR BRANCO CHABLIS CRUS DU BEAUJOLAIS
2008 8 8 7
2007 6 7 6 7
2006 7 8 8 8
2005 10 10 10 9
2004 7 7 7 6
2003 9 9 8 9
2002 9 9 9 6
2001 6 8 5 7
2000 7 8 9 8
1999 9 6 8 8
1998 8 7 8 6
1997 7 8 9 7
1996 9 9 9 5
1995 8 9 8 8
1994 6 7 8 6
1993 8 6 7 7

• Fonte – Importadora Mistral

Bordeaux, um pouco da história da mais prestigiosa região produtora do mundo

As primeiras referências escritas ao vinho produzido em Bordeaux remontam ao século IV, quando o poeta galo-romano Ausone, que hoje empresta seu nome a um dos grandes vinhos de Saint-Émilion,  escreveu poemas enaltecendo os vinhos da região – dentre os quais o que ele próprio produzia. Há fortes indícios de que por volta desta época a viticultura se espalhou e consolidou na Aquitânia sob domínio romano, depois de ter chegado ao Rhône.

Devido às invasões dos povos bárbaros na Idade Média, pouco se sabe sobre o vinho bordalês até o reinado de Carlos Magno, que, dizia-se, se interessava bastante pelos produtos de Fronsac. Ainda assim, os produtos ainda eram pouco negociados com o mercado externo. Com o fortalecimento do comércio nos séculos XII e XIII, a região vê o plantio de uvas e a produção de vinhos crescerem. Nesta época, os vinhedos eram plantados principalmente  ao norte do rio Dordogne, como em Saint Émilion e Fronsac, ao sul do Garonne, em Graves, na parte mais ao interior e ao sul de Bordeaux, que fabricava o maior volume da bebida.

Boa parte da reputação do vinho bordalês se estabeleceu durante o domínio inglês, a partir de 1152. Com o casamento de Eleonora da Aquitânia com Henrique II Plantageneta, rei dos ingleses e duque da Normandia, a região, assim como boa parte do oeste da França, ficou separada do restante do país por mais de três séculos, até o final da Guerra dos Cem Anos.

Para conquistar a confiança da população local, o governo inglês favoreceu as vendas de vinhos de Bordeaux no mercado inglês, dando isenção ao imposto de exportação cobrado no porto. Com isso, os vinhos da região conquistaram o mercado da Grã Bretanha, que comprava mais de um quarto do total da produção vitivinícola de toda a Gasconha.

Mesmo com a reconquista da região pela França, em 1453, o comércio de vinho com a Inglaterra continuou, já que o “claret” – nome dado pelos britânicos ao vinho de Bordeaux por sua coloração rubi clara – havia conquistado reputação. Com o fim do domínio inglês, os comerciantes holandeses passaram a dominar a compra do vinho da região; foram os holandeses, aliás, os responsáveis pela drenagem dos pântanos que dominavam o Médoc, a mais importante região de Bordeaux atualmente, no século XVII. A mudança no gosto dos consumidores ingleses, que queriam vinhos mais concentrados, e a ocupação destas terras drenadas por vinhedos definiram a identidade atual do vinho tinto bordalês.

A segunda metade do século XIX foi bastante agitada na região: enquanto surtos de míldio e filoxera derrubavam a produtividade e a qualidade, a classificação de 1855 feita pelo Syndicat de Courtiers estabelecia os melhores vinhos de Medoc e Graves, estabelecendo denominações que duram até hoje praticamente inalteradas. A delimitação do departamento da Gironda e o estabelecimento da Appellation Controlée em Bordeaux só viriam depois, em 1911 e 1936.
Bordeaux em números

Extensão: 10 000 km² (departamento de Gironde)

Área vitivinícola: 110 000 ha

Produção: 6 500 000 hl/ano

CHÂTEAU PETRUS, A ESTRELA MAIOR DE BORDEAUX

A glória desse pequeno produtor do Pomerol é bem mais recente do que o do Domaine de La Romanée-Conti, da Borgonha, bem como de seus primos aristocratas do Medoc, como o Château Margaux ou o Latour. Ele é hoje o vinho mais caro de Bordeaux e talvez do mundo.

Como não existe um sistema de classificação no Pomerol, o Petrus é reconhecido de forma não oficial como um Premier Cru. Esse vinhedo encravado no coração do Pomerol, em pleno Libournais, foi comprado em 1925 por Mme Loubat, esposa do dono do Hotel Loubat, de Libourne. Outro pedaço de terra foi comprado mais tarde de seu vizinho, o Château Gazin, completando a composição atual de 95% de uva Merlot e 5% de Cabernet Franc. Sua fase de reconhecimento internacional se iniciou após a Segunda Grande Guerra, quando entrou na sociedade o empresário Jean-Pierre Mouieux.

O Château Petrus é um vinho excepcional, uma combinação extraordinária de potência, riqueza complexidade e elegância. Em nenhum outro lugar a uva Merlot se expressa tão plenamente quanto aqui. Seu padrão de qualidade vem se mantendo de forma consistência nos últimos 30 anos, o que fez com que seu preço tivesse uma alta meteórica.

Em S. Paulo, uma garrafa de Petrus 2005 é vendida por R$ 29 440,00 e a da safra 1990 por R$ 40 890,00 ! Um vinho para muito poucos.
OUTROS GRANDES NOMES DE BORDEAUX

A lista aqui é enorme. Seguem os mais destacados: Château Latour (Pauillac), Château Lafite-Rothschild (Pauillac), Château Margaux (Margaux), Château Mouton-Rothschild (Pauillac), Haut-Brion (Graves), Château Pichon-Longueville Comtesse de Lalande (Pauillac), Château Cheval Blanc (Sait-Emilion), Château Ausone (Sain-Emilion), Clos d´Estournel (Saint-Estèphe), Château d´Yquem (Sauternes), Château Gazin (Pomerol), Le Pin (Pomerol), Château Léoville-Las Cases (Saint-Julien).
Localização, solo e clima

A região produtora dos vinhos de Bordeaux se localiza no departamento da Gironda, dentro da região da Aquitânia, sudoeste da França, cortada pelo paralelo 45° – portanto, em ótima latitude para o vinho. A produção vinícola se concentra às margens de dois rios principais, o Garonne e o Dordogne, que ao se encontrarem formam o estuário do Gironda, que dá nome ao departamento.

Os terrenos são, de modo geral, bastante planos e a composição do solo favorece a drenagem. Na margem esquerda do Garonne e do estuário do Gironda, predominam os solos arenosos misturados a cascalho (“graves”, em francês, que dá nome a uma região de Bordeaux cujo solo possui um grosso substrato de cascalho). No outro lado, ao longo da margem direita do Dordogne e do Gironda, a variedade é maior: argila, calcário, areia e cascalhos aparecem em diferentes trechos e muitas vezes se misturam. Já entre os rios Garonne e Dordogne, na área conhecida como Entre-deux-mers (“entre dois mares”), a composição do solo é basicamente argilo-calcária;  este solo mais fértil acaba prejudicando o crescimento .

Devido à influência da corrente do Golfo, quente, e à proximidade do amplo estuário do Gironda, o clima é bastante ameno, temperado oceânico. Ao sul das áreas vinícolas, a floresta de Landes protege a região de ventos mais fortes vindos do Atlântico e ajuda a estabilizar a temperatura em épocas muito quentes. A pluviosidade é mediana, mas variável, podendo-se observar diferenças de distribuição dentro da própria região: o Médoc, por exemplo, costuma receber um maior volume de chuvas por ficar mais próximo ao oceano. A umidade é mais elevada nas regiões à beira dos rios próximas à floresta de Landes, como Sauternes: graças a isso, as uvas brancas são atacadas pelo fungo Botrytis cinérea, responsável pela desidratação das uvas que produzem o vinho doce mais valorizado do mundo.
Regiões, denominações de origem e a classificação dos crus

A região vinícola de Bordeaux costuma ser dividida em três partes para melhor compreensão: margem esquerda, margem direita e Entre-deux-mers. As sub-regiões são distribuídas da seguinte forma:

Margem esquerdaBas-MédocHaut-MédocPessac-Léognan

Graves

Sauternes e Barsac

Cérons

Entre-deux-mersLoupiacSaint-Croix-du-MontSaint-Foy-Bordeaux

Cadillac

Côtes de Bordeaux St Macaire

Premières Côtes de Bordeaux

Graves de Vayres

Margem direitaSaint-ÉmilionPomerolLalande-de-Pomerol

Fronsac e Canon-Fronsac

Côtes de Blaye

Côtes de Castillon

Côtes de Francs

Côtes de Bourg

Quando foi estabelecida, a legislação para controle dos vinhos na França (Appellation d´Origine Contrôlée) previa uma série de níveis para a categorização. Quanto mais rigidamente um produtor seguisse as regras de manuseio da videira, da uva e do vinho para aquela região, mais específica seria a denominação que ele poderia usar no rótulo, conferindo, portanto, mais prestígio ao vinho.
Appellation genérica

Um vinho que recebe a Appellation Bordeaux Contrôlée (ou Bordeaux AC) pode ser produzido em qualquer parte da região, desde que use as uvas permitidas (ver abaixo) e tenha rendimento de, no máximo, 55 hl por hectare. Além disso, o produto final deve ter um teor alcoólico entre 10° e 12,5°. Caso o rendimento seja inferior a 50 hl/ha e o teor alcoólico superior a 10°, o vinho já pode ser enquadrado na classificação Bordeaux Supérieur. Os espumantes também se enquadram na categoria genérica, com o nome Crémant de Bordeaux. Os vinhos de appelation genérica correspondem a aproximadamente 45% do total produzido na região.
Appellation regional

Como vimos, a região de Bordeaux apresenta diversos tipos de solo. Outros fatores, como proximidade do mar e insolação também são fatores importantes para definir a personalidade do vinho. Assim, ao se restringir a área da qual podem ser colhidas uvas, a probabilidade de se obter um vinho com mais características do terroir aumenta. Por isso, as denominações regionais seguem a lista de sub-regiões vista na última tabela, agrupando áreas com características de solo, microclima, uvas e tipos de vinho produzidos mais similares.
Appellation comunal

Algumas das denominações regionais encerram classificações ainda mais específicas, de acordo com a comuna ou distrito de origem das uvas usadas. Logo, espera-se que um vinho de appelation comunal seja de alta qualidade – até porque o preço certamente será alto. Alguns dos grandes châteaux de Bordeaux possuem uma reputação tão alta que acabaram nomeando toda uma comuna: o Château Margaux, por exemplo, é classificado como Appellation Margaux Contrôlée.

Os crus classés

Mais de oitenta anos antes de ser estabelecida a legislação vinícola francesa, sindicatos de produtores e de negociantes já haviam se organizado para determinar uma hierarquia de qualidade do vinho. A metade do século XIX foi uma época de grande aumento no número de produtores da região. Pela falta de parâmetros de controle, muitos produtores se aproveitavam do prestígio de Bordeaux para vender vinhos feitos sem grandes cuidados, o que preocupou proprietários de châteaux tradicionais. Com isso, especialistas do mercado de vinhos foram reunidos para, em 1855, divulgar uma classificação dos vinhos bordaleses.

Embora a relação de 87 vinhos que mereciam, no entendimento do Syndicat des Courtiers, a classificação de crus tenha ajudado a reorganizar as avaliações de preços e o mercado de exportações do vinhos da região, muitos produtores saíram descontentes com o resultado. Primeiramente, deve-se ressaltar que a seleção dos vinhos crus classés (variando de premiers a cinquièmes crus classés, isto é, de primeiros a quintos vinhos crus classificados) foi feita apenas entre aqueles produzidos nas regiões de Médoc (60 vinhos) e de Sauternes (26, sendo um, o Château d´Yquem, premier cru supérieur e os demais classificados como premiers e deuxièmes crus classés), com exceção do premier cru classé Château Haut-Brion, de Graves. Além disso, houve protestos de muitos vinhateiros desta região que não foram enquadrados nesta classificação estática: de 1855 até hoje, apenas um vinho, o Château Mouton-Rothschild, foi elevado de deuxième para premier cru classé em 1973 por decreto presidencial de Charles de Gaulle.
Hierarquia dos crus classés do Médoc:

– 5 Premiers (4 do Médoc e 1 de Graves)

– 14 Deuxièmes (ou Séconds)

– 14 Troisièmes

– 10 Quatrièmes

– 18 Cinquièmes
Os crus bourgeois e outras classificações

Em oposição às regras rígidas da classificação de 1855, o sindicato de produtores do Médoc criou a classificação dos crus bourgeois (crus burgueses, já que os classés seriam “aristocráticos”) em 1932 para tentar reverter os maus resultados das vendas. A ordenação seria revista algumas vezes, tendo sido consolidada sua atual estrutura entre 1966 e 1978. Os vinhos dentro dessa hierarquia podem ser classificados como crus bourgeois exceptionnels, grands crus bourgeois ou crus bourgeois, em ordem decrescente de importância, embora no rótulo todos só possam usar o adjetivo mais simples. Se por um lado a qualidade de muitos crus classés oscilou em mais de um século e meio desde a classificação, é possível encontrar crus bourgeois desde medianos, pouco melhores que um Bordeaux genérico, até ótimos, superando em qualidade alguns crus classés de menor estirpe.

Saint-Émilion, na margem direita, criou sua própria classificação em 1955, por iniciativa do sindicato local. Mais simples, ela divide os vinhos em premiers grand crus (15 vinhos) e grand crus (46). Na outra margem, vizinha ao Médoc, a região de Graves selecionou em 1959 seus 17 châteaux merecedores de classificação – 14 vinhos tintos e 10 brancos são considerados classés.
As uvas

Mais de 80% da produção vinícola da região é tinta e é inevitável a associação do nome Bordeaux com vinhos estruturados e elegantes, marcados pela predominância da Cabernet Sauvignon e da Merlot. Dentre os brancos, porém, são produzidos alguns dos melhores vinhos doces do mundo, graças à pourriture noble que ataca a Sémillon e a Sauvignon Blanc em algumas áreas. Brancos secos muito bons também podem ser encontrados com as mesmas uvas.

Uvas tintasCABERNET SAUVIGNONMERLOTCABERNET FRANC

PETIT VERDOT

MALBEC

CARMENÈRE

Uvas brancasSAUVIGNON BLANCSÉMILLONMUSCADELLE

COLOMBARD

UGNI BLANC

O tinto de Bordeaux é famoso e, mais uma vez, se opõe ao da Borgonha por ser um vinho de corte, isto é, composto por mais de uma uva, e não um monovarietal. Cada uva desempenha seu papel na mistura, cujas proporções e protagonistas variam de acordo com a sub-região. A Cabernet Sauvignon, provavelmente a mais globalizada das uvas, dá vinhos tânicos e complexos e é a tinta predominante na margem esquerda, mais quente e, portanto, mais propícia a seu amadurecimento. No total, a Cabernet Sauvignon ocupa 25 000 ha em toda a região. A Merlot, um pouco mais macia, mas também com boa estrutura, é a mais plantada de Bordeaux, cobrindo aproximadamente 40 000 hectares, e os vinhos mais reputados em que é a cepa principal do corte são os produzidos na margem direita, de clima mais continental e ameno. A Cabernet Franc é a mais importante coadjuvante nos tintos bordaleses (embora em alguns de Saint-Émilion, notadamente o Château Cheval Blanc, seja a uva principal), com perto de 13 500 ha plantados. Podem também aparecer no corte bordalês, em menor grau, as variedades Petit Verdot, Malbec e, muito raramente, a Carmenère .

A mesma coisa acontece dentre as brancas: raramente um Bordeaux branco, doce ou seco, será feito com apenas uma cepa. Despontam como principais componentes do bom branco bordalês a Sémillon e a Sauvignon Blanc. A primeira, opulenta, doce, untuosa e muito suscetível à pouriturre noble – podridão nobre, a desidratação da uva pelo fungo botrytis, aumentando imensamente a concentração de açúcar da uva – é sempre a protagonista nos vinhos doces, notadamente os Sauternes e Barsac. Já a Sauvignon Blanc, mais ácida, delgada e herbácea, suaviza a doçura nos vinhos botritizados e é o principal componente dos brancos secos de Graves, mais reputados, e de Entre-deux-mers. A Muscadelle entra no corte principalmente por seu aroma, bastante floral, e sua jovialidade, mas é cada vez menos plantada devido a sua fragilidade a doenças e está mais presente na região de Entre-deux-mers. É possível encontrar também as desinteressantes uvas Ugni Blanc e Colombard em menor escala.
Principais AOC’s

MÉDOC

No dialeto local, Médoc significa “terra do meio” , por estar situada entre o oceano Atlântico e o estuário girondino, e  é uma faixa de terra que se estende do norte da cidade de Bordeaux até quase a foz do rio, espremida pela floresta de Landes ao sul e pelas áreas pantanosas da costa. O próprio Médoc já foi pantanoso até ter sido drenado de acordo com as técnicas holandesas trazidas por mercadores, no século XVII. Só a partir de então começou-se a produzir vinho – felizmente. A região costuma ser dividida em Bas-Médoc (no rótulo, apenas Médoc) e Haut-Médoc, a área mais nobre, com diversas AOC comunais.

O Bas-Médoc não desfruta de algumas das vantagens de seu vizinho mais famoso, a começar pelo solo. Aqui, a camada de cascalho não é tão grossa e o solo argiloso, mais pesado, não consegue drenar com tanta eficiência a água, numa área que pela proximidade do mar já é mais úmida que o restante de Bordeaux. Muito plana e cortada por muitos canais resultantes da drenagem dos pântanos, a região concentra sua produção de vinhos nas áreas com mais cascalho e de altitude menos baixa. Devido ao clima e ao solo, a Merlot aparece aqui com mais freqüência que a Cabernet, por se adaptar melhor ao solo argiloso e amadurecer mais rapidamente. Não há nenhum cru classé, mas muitos crus bourgeois da região possuem boa relação custo-benefício em se tratando de Bordeaux. Châteaux de destaque: La Tour de By, Potensac, La Cardonne, Tour Haut-Cassan, La Gorre, Vieux Robin, Landon etc.

Já o Haut-Médoc é a região das grandes estrelas de Bordeaux. Além dos 60 crus classés e 4 dos 5 premiers crus classés, nela há mais de 150 crus bourgeois de vários níveis, alguns dos quais comparáveis a crus classés de alta patente a um preço mais acessível. A grande maioria dos classés se encaixam em appélations comunais: apenas 5 dos 60 estão em áreas cuja denominação no rótulo é a genérica Haut-Médoc. Quanto mais a sudeste e, portanto, mais interior a região, menos úmido é o clima e é maior a concentração de graves (cascalhos) na composição do solo. A camada de cascalho, além de drenar bem o solo, conserva o calor do sol por mais tempo, aquecendo as raízes e incentivando-as a ir mais fundo em busca de água.
SAINT-ESTÈPHE

A primeira comuna de fora para dentro na região do Haut-Médoc ainda guarda alguma semelhança com o vizinho e menos reputado Bas-Médoc. O solo ainda possui argila misturada aos graves, e o resultado disso são vinhos mais ácidos e robustos do que elegantes, que nas safras mais secas costumam resistir melhor que os das demais áreas do Médoc. Os vinhos de Saint-Éstephe podem levar até 20 anos em boas safras para amadurecerem.

Previsivelmente, os melhores vinhos e os grandes crus classés se concentram na região ao sul, fronteiriça à Pauillac do Château Lafite. Os principais nomes sem dúvida são os seconds Cos d´Estournel, com uma proporção de Merlot pouco usual na região que o torna bastante suculento, e Château Montrose, à beira do Gironda, com estilo mais próximo ao dos vinhos de Pauillac. O troisième Château  Calon-Ségur, o cru classé mais setentrional, nos arredores da vila de Saint-Estèphe, tem um estilo que fica entre o dos dois citados, podendo ser ótimo nas melhores safras.

Seconds cru classéTroisième cru classéQuatrième cru classéCinquième cru classé Ch. Cos d´EstournelCh. MontroseCh. Calon-SégurCh. Lafon-Rochet

Ch. Cos-Labory

A região produz também ótimos crus bourgeois, em especial na região a sul e sudoeste da vila de St-Estèphe. Os Châteaux Haut-Marbuzet, Meyney, de Pez, Phélan Ségur, Les Ormes de Pez, Beau-Site e Lilian Ladouys são os principais nomes desta área. Nas outras partes, podem ser citados os Châteaux Cissac, Bel Orme Tronquoy de Lalande e Le Bourdieu, dentre outros.
PAUILLAC

Uma das mais nobres áreas vinícolas da França, Pauillac concentra três dos cinco grandes de Médoc e Graves: Château Lafite e Mouton-Rothschild, mais ao norte,  e Latour, na fronteira com Saint-Julien. Mais do que muitos grandes representantes, para muitos o Pauillac concentra os Médocs arquetípicos. Complexos, vigorosos e concentrados, expressão máxima da Cabernet Sauvignon, os vinhos de Pauillac atingem preços estratosféricos, estando alguns deuxièmes crus e até inferiores no mesmo patamar de qualidade atualmente que seus superiores na classificação de 1855.

A cidade de Pauillac é a maior do Médoc e concentra atividade industrial e portuária. Na faixa que margeia o Gironda e o canal de Gaer, que divide a comuna ao meio, o solo é inapropriado para as vinhas. Depois desta pequena faixa inadequada, uma linha contínua de vinhedos toma uma área com 6 km de extensão e 3 de largura. Na metade norte da comuna, as grandes estrelas são as propriedades da família Rothschild: os premiers crus classés Châteaux Lafite e Mouton-Rothschild. O Lafite, fino e macio, é uma das mais extensas propriedades da região. Já o Mouton, o único a ser agraciado com uma “promoção” desde que a classificação de 1855 foi feita, é denso e encorpado, reflexo de uma maior concentração de Cabernet no seu corte.

Já no sul, o sólido e muito longevo premier cru classé Château Latour divide os holofotes com dois importantes deuxièmes que, originalmente, eram da mesma família: os Châteaux Pichon-Longueville e Pichon Longueville Comtesse de Lalande. Nas últimas décadas, os dois lados travaram uma batalha de prestígio no mundo dos apreciadores, após muito investimento em tecnologia na plantação e na vinificação e na estrutura turística. Bom para os amantes de Bordeaux, que ganharam dois vinhos de altíssima qualidade.

Nos outros degraus de classificação, um dos grandes destaques é o Ch. Lynch-Bages, um mero cinquième cru classé que nas últimas décadas evoluiu muito sob a batuta de Jean-Michel Cazes. Os Châteaux Duhart-Milon (4ème) e d´Armailhac (5ème), de propriedade de Lafite e Mouton respectivamente, oferecem vinhos de grande qualidade. Outros cinquièmes de destaque são os Châteux. Batailley, Haut-Batailley, Grand-Puy Ducasse, Grand-Puy Lacoste e Haut-Bages Libéral, alguns com ótima relação qualidade-preço.
SAINT-JULIEN

Embora não possua nenhum premier cru, a minúscula comuna de Saint-Julien concentra uma grande quantidade de vinhos classés. Situa-se imediatamente ao sul de Pauillac, bem no coração do Haut-Médoc, e produz também vinhos de alta qualidade mesclando as características de Pauillac (vigor) com as de Margaux (fineza e elegância). Onze de seus vinhos constam da classificação de 1855 e vários “ crus bourgeois”. Os mais importantes são:

CH. DUCRU-BOUCAILLOU (second cru)

CH. LÉOVILLE-LAS-CASES (second cru)

CH. LÉOVILLE-BARTON (3 ème cru)

CH. LAGRANGE (3 ème cru)

CH. BEYCHEVELLE (4 ème cru)
LISTRAC

Produz vinhos robustos, encorpados, de bom prestígio, vários deles na categoria “cru bourgeois”. Não produz “crus classés”.

CH. CLARKE

CH. LESTAGE

CH. PEYDERON

CH. FOURCAS HOSTEIN

CH. FOURCAS DUPRÉ

MOULIS

Pequena comuna que ocupa uma área de 12 km. de comprimento por 350 m. de largura. Bons “crus bourgeois”, não produz “ crus classes”.

MARGAUX

Rivaliza com Pauillac como sendo a região de maior prestígio do Medoc. Em seus 1 300 ha de vinhedos, onde a uva Cabernet Sauvignon predomina,  se produz vinhos de grande elegância. O mais famoso é o Château Margaux, “premier cru classe” que é uma verdadeira legenda. Elegância e delicadeza são as marcas registradas dos bons vinhos daqui.

CH. MARGAUX (premier cru)

CH. BRANE-CANTENAC (second cru)

CH. RAUZAN-GASSIES (second cru)

CH. LASCOMBES (second cru)

CH. KIRWAN (troisième cru)

CH. PALMER (troisième cru)

CH. PRIEURÉ LICHINE ( quatrième cru)

CH. DAUZAC ( cinquième)

E vários “crus bourgeois”.


MÉDOC- CLASSIFICAÇÃO DOS VINHOS

A Classificação do Médoc de 1855 (revista em 1973)
Inclui sessenta “crus” do Médoc e apenas um de Graves: Château Haut-Brion

“PREMIERS CRUS”

CHÂTEAU HAUT-BRION (Graves-Pessac)
CHÂTEAU LAFITE-ROTHSCHILD (Pauillac)
CHÂTEAU LATOUR (Pauillac)
CHÂTEAU MARGAUX (Margaux)
CHÂTEAU MOUTON-ROTHSCHILD (Pauillac)

“DEUXIÈMES CRUS” – 14 vinhos

“TROISIÈMES CRUS” – 14 vinhos

“QUATRIÈMES CRUS” – 10 vinhos

“CINQUIÈMES CRUS” – 19 vinhos

Nota: Os sessenta “Crus Classés” do Médoc, com uma superfície de 3000 hectares, representam 25% da produção do Médoc, mais de 40% do seu volume de negócios

Dentre os crus bourgeois, o Château La Couronne é considerado excepcionnel; os Châteaux. Haut-Bages-Averous e Pibran também são muito bem reputados, além do St. Estèphe genérico La Rose-Pauillac, produzido por uma cooperativa bem-sucedida. Deve-se destacar também o segundo vinho de Latour, Les forts de Latour, e em menor grau o de Lafite, Carruades de Lafite.
GRAVES E PESSAC-LÉOGNAN

Já fora do Médoc e bem próximo da cidade de Bordeaux encontramos estas duas regiões.Em Graves vamos encontrar o único “premier cru classé” que faz parte da classificação de 1855 que se situa fora do Médoc, o grande Château Haut-Brion. Outros grandes vinhos dessas regiões:

CH. CARBONNIEUX

CH. LA MISSION-HAUT BRION

CH. FIEUZAL

CH. PAPE-CLEMENT

CH. SMITH-HAUT-LAFITTE
SAUTERNES

Nessa região se produz o mais famoso vinho doce de sobremesa do mundo, o Sauternes, com uvas atacadas pelo fungo “ botrytis cinérea”. O mais famoso é o extraordinário Château D´Yquem, reconhecido como ‘ premier grand cru classe” em 1855. Outros vinhos:

CH. RIUSSEC

CH. CLIMENS

CH. COUTET

CH. LA TOUR-BLANCHE

CH. DOYSI-DUBROCA
SAINT-ÉMILION

Situada à margem direita do rio Dordogne, a encantadora comuna medieval de Saint-Émilion não constou da classificação de 1855, embora produza também vinhos excepcionais. Assim, já em meados do século XX, criaram a sua própria classificação, que é revista a cada 10 anos.
São dois os “Premier Grand Cru Classé A”  e 13 os “Premier Grand Cru Classé B”, além de 46 “Grand Cru Classé “ e vários “Cru Classés”.

CLASSIFICAÇÃO DE SAINT-EMILION

Estabelecida pelo INAO, deve proceder a sua revisão a cada 10 anos. A primeira classificação foi feita em 1954 e teve alterações alterações em 1958.
A Classificação em 2006 , que é a 5ª, é a que está em curso :

Existem dois tipos de “AOCs” em Saint-Emilion: Saint-Emilion e Saint-Emilion Grand Cru

Apenas este últimos têm direito às menções “Grand Cru Classé”  e “Premier Grand Cru Classé”

PREMIERS GRANDS CRUS CLASSÉS (15 vinhos)

CLASSE A:

CH. AUSONNE
CH. CHEVAL-BLANC

CLASSE B:

CH. ANGELUS
CH. BEAUSÉJOUR (Duffau-Lagarrosse)
CH. BEAU-SÉJOUR-BÉCOT
CH. BELAIR
CH. CANON
CH. FIGEAC
CLOS FOURTET
CH. LA GAFFELIÈRE
CH. MAGDELAINE
CH. PAVIE
CH. PAVIE-MACQUIN
CH. TROPLONG-MONDOT
CH. TROTEVIEILLE
GRANDS CRUS CLASSÉS (46 vinhos)

POMEROL

Próxima a Saint-Émillion, a comuna de Pomerol possui também sua própria classificação, podendo ser Premier Cru ou Grand Cru Classé.  Seu vinho mais famoso é o caríssimo e muito afamado Château Petrus, sem falar no Le Pin, “ vin de garage” de produção minúscula e alto preço.

CH. PETRUS

CH. LE PIN

CH. GAZIN

CH. CERTAN

CH. LAFLEUR

CH. LAGRANGE

CH. BEAUREGARD

CH. LACROIX

OUTRAS REGIÕES DE DESTAQUE

ENTRE-DEUX-MERS

O nome, cuja tradução é “Entre-dois-Mares”, evoca a situação geográfica da zona, situada entre os rios Dordogne, ao norte, e o Garonne, ao sul. A maré atlântica faz com que as águas desses rios subam e o nome da região assim se explica. É a maior zona produtora de Bordeaux e também a maior da França, dentre as regiões AOC.

Ali predominam os vinhos brancos secos à base de Sauvignon Blanc e Sémillon, os únicos autorizados a ostentar em seus rótulos a denominação AOC Entre-deux-Mers. Vinhos bons, frescos e muito agardáveis, para serem bebidos jovens.  Os tintos se contentam com as denominações AOC Bordeaux e AOC Bordeaux Supérieur. Este últimos costumam ter uma boa relação Qualidade/Preço.

BLAY ET BOURG

Aqui os melhores vinhos são os tintos. Situa-se bem à frente do estuário do Gironda, na margem esquerda desse grande rio. Devido a seu acesso mais fácil, é uma região produtora mais antiga do que o próprio Medoc, e seus protos já comercializavam vinho durante a Idade Média.

As uvas Merlot e Cabernet Franc predominam na mescla de seus tintos, que lembram, no estilo, aqueles de Fronsac e Saint-Emillion.

TABELA DE SAFRAS DE BORDEAUX

Medoc/ 
Graves tintos 
St-Emillion/ Pomerol  Graves/ Brancos secos  Sauternes/ Barsac 
2008 8 8 8
2007 7 7 8 9
2006 8 8 7 8
2005 10 9 9 9
2004 8 8 8 6
2003 9 8 8 9
2002 7 7 7 8
2001 8 8 8 10
2000 10 10 8 5
1999 7 7 7 9
1998 8 9 8 8
1997 6 6 7 9
1996 9 8 8 9
1995 8 9 9 8
1994 7 7 8 6
1993 6 6 7 3

AGUINALDO ZÁCKIA ALBERT

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