GRANDES CUVÉES DE CHAMPAGNE INSTIGAM O DESEJO DOS CHAMPANHÓFILOS
16 maio 2008, Posted by Notícias e Artigos inSabores e sensações não são as únicas coisas que o vinho traz ao homem. Existem também os valores simbólicos que a ele se associam, como as idéias de raridade, exclusividade e riqueza que, em maior ou menor grau, sempre acompanharam o vinho, e de modo especial o champanhe. Pode-se no entanto perceber que esses conceitos nunca apareceram no chamado “ imaginário do champanhe” de forma tão exagerada como em nossos dias. Nesses tempos em que o dinheiro correu solto como nunca (pelo menos até agora) e que novas grandes fortunas se formaram, o mercado de produtos de luxo floresceu e os produtores de Champagne aproveitaram a nova voga.
A região que produz os melhores vinhos espumantes do mundo sempre se caracterizou pelos vinhos de “assemblage”, ou seja, vinhos elaborados com a mescla das uvas permitidas na região (Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Meunier), uvas essas — na grande maioria dos casos– oriundas de vinhedos diversos. Da mesma forma, esses champanhes costumam não mencionar no rótulo a sua safra, uma vez que é feito com uma mistura de uvas de safras variadas, exceção feita aos millésimes ou vintages, champanhes especiais feitos com uvas de uma só colheita, que deve ser excepcional.
Curiosamente, no entanto, o que se tem observado nos últimos anos, é o aumento significativo da produção de champanhes de alta gama feitos com uvas de parcelas minúsculas, que muito raramente suplantam um hectare. Além disso, são vinhos millesimés, na sua maior parte elaborados apenas com uma casta de uva. A tiragem desses cuvées d´exception é bastante limitada, o que só colabora para que seus preços cheguem às alturas, deixando o consumidor comum espumando de raiva por não poder comprá-los.
A própria Maison Krug, que integra a elite dos produtores de Champagne, e que se notabilizou por produzir grandes champanhes de assemblage, embarcou na nova moda. Seu Clos du Mesnil, por sinal um champanhe excepcional, é um espumantes mono-casta , “mono- cru” e safrado, a antítese da filosofia da casa. Um de seus proprietários Olivier Krug, explica que tudo aconteceu por acaso. Em 1971, a Maison comprou um vinhedo de 8 hectares, do qual fazia parte um clos (vinhedo murado) de 1,85 hectares, cujas uvas entravam na mescla de seu champanhe Salon. Perceberam então características muito especiais nesse vinho e resolveram produzir o Grande Cuvée Clos de Mesnil, um lote de 12 000 garrafas da safra 1998. Percebendo a boa recepção do mercado, acaba de lançar mais um produto de alto luxo, o champanhe Clos d´Ambonnay safra 1995. Um Pinot Noir cuja garrafa custa a bagatela de 3 000 euros ! E ainda assim na França…
A Maison Billecart- Salmon segue a mesma trilha. Ela possui um pequeno vinhedo de um hectare em Mareuil-sur-Ay de nome Clos Saint-Hilaire, que produz apenas Pinot Noir. Com essas uvas se elabora o seu Grand Cru Clos Saint-Hilaire . Apenas dois lotes ganharam até agora o mercado: as safras 1995 e 1996. O vinho passa por um longo período de élevage (oito anos de adega) e seu chef de cave garante que os champanhes das safras 1997, 2000, 2001 e 2003 não serão produzidos.
O Clos de Goisses se situa numa encosta abrupta também na pequena cidade de Mareuil-sur-Ay. Esse lote de 5,5 hectares pertence à Maison Phillipponnat e seu nome é derivado da expressão gois , que no dialeto local significa “ tarefa árdua” , para que se tenha idéia da posição do vinhedo. Aqui apenas o vinhedo a safra são únicos, pois na composição do champanhe entram duas cepas: Pinot Noir (2/3) e Chardonnay (1/3). O champanhe Clos des Goisses não sai todo ano e cerca de 50% das uvas colhidas são descartadas, a fim de se ter a melhor matéria prima possível.Evidentemente, o preço do champanhe é compatível com o rigor da produção.
Outras Grandes Cuvées de casa famosas de Champagne também surgiram, sempre dentro do conceito de chamado “mercado de luxo”, cuja filosofia é produzir pouco e com alta qualidade para que seus produtos sejam raros e atinjam altos preços. A Bollinger tem seu champanhe Vieilles Vignes Françaises, feito com uvas de vinhedos de pé-franco pré-filoxera (sem enxertia). Podemos citar ainda alguns outros produtores de novos champanhes de alta gama , produzidos com uvas de um único vinhedo mas não do tipo clos (murado). São champanhes de alta qualidade e que têm , felizmente, preços mais palatáveis, como o Vigne aux Gamins, um Grand Cru 100% Chardonnay da comuna de Avize, do produtor Alain Thienot. Outro blanc de blancs que a crítica internacional diz ser formidável é o Les Chaillots Gillis, do produtor Nicolas Maillart. Para terminar um blanc de noirs feito com 100% de uvas Pinot Noir, o champanhe La Ravinne, da Maison Leclerc-Briant.
Dessa forma, conclamo os “champanhófilos” de coração que se enquadram na categoria de pobres mortais que comecem a fazer alguma poupança para que possam ter a oportunidade de , em 2009, provar esses deliciosos néctares.
AGUINALDO ZÁCKIA ALBERT
Publicado na edição #39 / 2008 da revista ADEGA.