MONTEPULCIANO, UMA CIDADE INESQUECÍVEL NA ROTA DOS VINHOS DA TOSCANA
16 ago 2006, Posted by Notícias e Artigos inAs viagens pelo mundo do vinho nos reservam agradáveis surpresas. Muitas vezes pega-se a estrada e ruma-se para um local com o objetivo de provar seus vinhos – alguns muito famosos – e, no final das contas, a grande estrela se torna a própria cidade e seus arredores, eclipsando seus próprios vinhos.
Esse é o caso de Montepulciano, minúscula cidade medieval da Toscana, onde se produz um dos mais famosos vinhos DOCG da Itália, o Vino Nobile di Montepulciano. Sua uva principal é um clone da variedade Sangiovese, conhecida por Prugnolo Gentile, e segue a receita do corte do Chianti, com a adição da uva Canaiolo, já que as uvas brancas Trebbiano e Malvasia foram banidas pela legislação de 1989. Considerado um vinho de potência intermediária entre o Chianti Classico e o Brunello di Montalcino, embora não tenha aromas tão complexos quanto o primeiro ou a força e o caráter do segundo. Na região as noites são mais quentes e o solo mais arenoso. O período mínimo de guarda de estágio do vinho em carvalho foi reduzido para um ano e a adaptação dos vitivinicultores à modernidade tem sido mais lenta do que em outras regiões nobres da Toscana, o que causa uma certa irregularidade na qualidade de seus vinhos. Um vinho bem mais leve é também produzido na região, o DOC Rosso di Montepulciano. Escolhendo com critério os produtores, bebe-se bem na região, mas é muito raro ter pela frente um “grande vinho”.
Mas quando se quer beber um vinho com couleur locale, mergulhado num ambiente encantador, Montepulciano é imbatível. Em primeiro lugar porque a cidade ainda não foi descoberta pelo turismo de massa, talvez por não estar na rota dos grandes centros. A sensação detestável que se pode sentir na belíssima Firenze, com suas ruas tomadas por hordas de turistas e suas calçadas cobertas por bolsas de grife fake vendidas por imigrantes (o que felizmente ainda não acontece na encantadora Siena), é desconhecida ali. Caminha-se calmamente por suas ruelas em declive vendo a cidade ou mirando, de suas muralhas, todo o vale que contorna a cidadela medieval; senta-se, toma-se um café ou um Vin Santo e fuma-se um bom charuto. Depois, volta-se a caminhar, passando por sua sua Piazza e conhecendo alguns de seus Palazzi. Palazzo Tarugi-Bernabei, Palazzo Contucci, imponentes residências senhoriais das famílias mais tradicionais do local.
Saindo da cidadela pela Porta Grassi e, já fora das muralhas, seguindo a estrada que leva a Chianciano, chega-se à imponente Igreja consagrada à Madonna di San Biagio. Por sua grandiosidade é chamada de Tempio (templo). Construída no século XVI pelo arquiteto Antonio Sangallo, il Vecchio, sobre as fundações de uma igreja bem mais antiga, é um dos monumentos mais belos da Toscana. Toda construída em mármore Travertino, sua planta foi concebida em forma de cruz grega, bastante semelhante – mas em escala menor – à Basílica de São Pedro, no Vaticano.
Comer bem não é problema em Montepulciano. Comi muito bem e pagando preço honesto no Ristorante Le Logge, dentro da cidade velha, e também no ótimo La Locanda Del Vino Nobile, na Via dei Lillà, a uns 5 km do centro. Seu proprietário, o simpático Chef Rosário Chiloiro, treina cozinheiros japoneses de restaurantes italianos sediados no Japão, que estagiam com ele regularmente. Experimente o excelente Tagliatelle di farina di castagne al sugo di cinghiale e o Filetto di maiale in crosta di lardo. Aproveite para beber os vinhos dos melhores produtores da região, como Avignonesi, Poliziano ou Poderi Boscarelli.
O café deve ser reservado para ser degustado no tradicionalíssimo Caffé Poliziano, fundado em 1868. Localizado na rua “principal” da cidade, seus requintados salões em estilo Art Nouveau eram freqüentados por Federico Fellini, Malaparte, Pirandello, o tenor Mario Del Monaco e outros grandes nomes da cultura italiana. O caffè-ristorante é um dos símbolos da velha cidade e preservado de forma impecável. Você pode também querer tomar mais vinho, e a casa tem. Nesse caso pegue uma mesinha na pequena varanda que se debruça pelo vale de Valdichiana e, desfrutando da magnífica paisagem, peça um bom Vino Nobile di Montepulciano. Nessa circunstância ele será, sem dúvida, o melhor vinho do mundo…
AGUINALDO ZÁCKIA ALBERT
Publicado na revista Vinho Magazine #75.