A
VERDADE DENTRO DO COPO
AGUINALDO
ZÁCKIA ALBERT
O
que determina o preço de um vinho? Aqueles que responderam somente
“qualidade” erraram e não vão para o trono,
como diria o Chacrinha. Está claro que não se consegue
produzir vinhos de alta qualidade e vendê-los a preços
baixos. Vinhedos bem cuidados e com baixa produção por
hectare, barricas de carvalho de boa procedência, equipamentos
modernos de vinificação, rolhas de qualidade, etc., custam
dinheiro. Mas nada disso explica, por si só, os preços
exagerados de muitos vinhos.
A verdade é que, ao custo de todos estes insumos citados, que
resultam no vinho de qualidade, devemos somar valores intangíveis
como o charme da região produtora, a raridade deste vinho, o
prestígio que ele grangeou durante muitos anos, o status que
ele confere, etc. Eu diria que são estes últimos itens
os que pesam mais na balança, e em nossos bolsos.
Aqueles
que participam de degustações às cegas com alguma
freqüência já devem ter passado por experiências
surpreendentes nas quais vinhos de boa qualidade – mas de pouco
renome e preços moderados -- botaram para correr monstros sagrados.
Não é a regra, mas eu diria que é um fato mais
freqüente do que seria de se esperar. Que fique claro que não
se trata de colocar um Chapinha ao lado de um Romanée-Conti!
E para mostrar que isso não é um fenômeno exclusivo
de nossas paragens , cito o que ocorreu recentemente em Londres.
O
casal Liz e Mike Berry, donos de uma famosa loja de vinhos em Londres,
a La Vigneronne, e que agora moram no sul da França, realizaram
uma muito interessante degustação. Entre consumidores
habituados a beber bons vinhos e alguns jornalistas, eram 35 pessoas
os participantes da degustação, na qual foram servidos
quatro grandes nomes do vinho de Bordeaux e do Rhône ao lado de
outros vinhos de destaque do “Novo Mundo francês”,
o Languedoc-Roussillon, elaborados com uvas semelhantes aos primeiros
(mas com preços bem mais baratos).
Cito
os vinhos com seus preços em libras esterlinas; preços
vigentes no mercado, portanto mais baixos do que os nossos. Se quiserem
saber o preço em dólar, multipliquem por 1,80, em reais,
por 5,4.
A
Uva Merlot foi representada pelo Château Petrus 1999, AOC Pomerol,
Bordeaux, (400 libras a garrafa), e pelo Merle aux Alouettes 1999, Vin
de Pays D’Oc (20,95 libras). A Cabernet Sauvignon compareceu com
um outro Bordeaux (agora da margem esquerda) Grand Cru Classé
AOC Saint-Julien Château Léoville Barton 2000 (70 libras);
do sul vieram o Domaine les Creisses “Les Brunes” 2000,
Vin de Pays D’Oc (18,50 libras) e o Domaine de la Grange des Peres
2000, Vin de Pays d’Hérault (35,00 libras).
O
terceiro e o quarto “flight” tiveram como tema as uvas do
Rhône. Primeiro a Syrah, um Hermitage 2001 do renomado Domaine
Jean Louis Chave (80,00 libras), confrontado com um Clos de la Belle
2001, Vin de Pays du Gard (22,95 libras) e um Clot de l’Oum 2002
“Numero Uno”, Côtes du Roussillon Villages Caramay
(16,95 libras). Finalmente a uva Grenache, que se fez representar pelo
Château Rayas 2000 AOC Châteauneuf-du-Pape (80,00 libras)
ao lado de um Les Boissières 2000, Domaine Font Caude, Coteaux
du Languedoc produzido por Alain Chabanon (17,95 libras) e de um Terre
Inconnue “Les Abuelos”, Vin de Table de Robert Creus (23,50
libras).
Os
surpreendentes resultados foram os seguintes, com notas de 0 a 20:
Uva
base MERLOT – Bastante equilibrado, mas...
1º Merle aux Alouettes 1999 – 16,08 pontos
2º Domaines de Ravanès 1999 -16,05 pontos
3º Château Petrus 1999 – 15,92 pontos
Uva
base CABERNET SAUVIGNON – Com menos surpresas, apesar da diferença
mínima entre os 2 primeiros.
1º Château Léoville Barton 2000 - 16,91 pontos
2º Domaine La Grange des Pères – 16,88 pontos
3º Domaine Les Creisses Les Brunes 2000 – 14,48 pontos
Uva
base SYRAH
1º Clot de l’Oum Numero Uno 2002- 17,09 pontos
2º Hermitage 2001 Chave – 16,17 pontos
3º Clos de la Belle 2001 – 16,11 pontos
Uva
base GRENACHE
1º Les Boissières 2000 Domaine Font Caude – 16,69
pontos
2º Château Rayas 2000 Châteauneuf-du-Pape – 16,05
pontos
3º Terre Inconnue Los Abuelos 2001 – 15,09 pontos
É
isso aí, pessoal!