SAFRA DE 2005, UM GRANDE TRUNFO PARA O VINHO GAÚCHO


AGUINALDO ZÁCKIA ALBERT


As previsões de uma safra excepcional em terras do Rio Grande do Sul não só se confirmaram como suplantaram as mais otimistas das expectativas. Azar de uns, sorte de outros. A forte insolação e a longa estiagem, que se constituíram num dramático problema para os produtores de grãos de cereais dessa região, foram uma benção para os vinhateiros da Serra e da Campanha. O resultado: uma colheita histórica, considerada a melhor de todos os tempos, que por sua vez dará origem a vinhos de altíssima qualidade quando vinificada pelos mais competentes produtores do sul brasileiro.

Alguns dados divulgados pela Embrapa mostram bem como foram as condições climáticas da safra 2005:

Insolação (em horas):

Dezembro safra 2005 – 250 horas/ Ano normal – 239
Janeiro 2005 – 281/ ano normal 231.
Fevereiro 2005 – 222/ Ano normal 199

Precipitação pluviométrica em milímetros:
Dezembro safra 2005 – 54 ml/ Ano normal 144 ml
Janeiro 2005 – 52 ml/ Ano normal 140 ml
Fevereiro 2005 – 55 ml/ Ano normal 139 ml

As boas notícias começaram a chegar nos últimos meses através de conversas com amigos produtores, notas na mídia e divulgação de assessorias de imprensa. Falavam de baixos níveis de precipitação pluviométrica, recordes de tempo de insolação, uvas com alta concentração de açúcar. Alguns dias antes de entregar esta matéria, pude presenciar, em seu escritório de São Paulo, um Angelo Salton eufórico e mais otimista do que nunca acompanhando on line o teor de graus babo (teor de açúcar da uva) de cada carregamento de uva entregue à sua vinícola. 22, 23, 24 graus, que resultariam em vinhos de até 14° graus de álcool, fato memorável para uma região em que a chaptalização era um procedimento corriqueiro para se obter vinhos com mais corpo.

Faltando poucos dias para o encerramento da colheita dos últimos lotes da tardia Cabernet Sauvignon (e apenas a um dia do fechamento desta edição), tive a oportunidade de checar tudo isso, em companhia de outros colegas da crítica especializada de vinhos de São Paulo. Uma rápida viagem a Bento Gonçalves, a convite da Vinícola Miolo, nos possibilitou um maior contato com o que a moderna produção de vinhos do país tem de melhor.

É bem verdade que a natureza tem sido generosa nos últimos anos com os produtores da Serra Gaúcha. 2004 havia sido excepcional, talvez a melhor safra conseguida até então. Antes disso, 1991, 1999 e 2002 foram colheitas dignas de nota. Agora temos 2005, confirmando ser a melhor de todas. Vejam bem que foram apenas duas safras notáveis nos anos 90, e já são três as dos anos 2000, sem que tenhamos encerrado a década. O clima está mudando? Podemos contar com condições ao menos semelhantes às dos últimos anos de forma consistente? São questões que levanto mas não arriscaria responder.

Porém, uma coisa é certa: aqueles produtores que investiram na qualidade de seu produto, do cuidado com seus vinhedos até a modernização de seus equipamentos tecnológicos, passando pela pesquisa séria e o acompanhamento das tendências internacionais, certamente terão condições que nunca tiveram antes de elaborar um vinho de qualidade nunca antes obtida com essas uvas notáveis.

Acompanhado pelo engenheiro agrônomo Ciro Pavan, da Vinícola Miolo, pude visitar os cinco vinhedos próprios da empresa, um deles com uvas ainda nos pés, e pude dar razão à máxima de que não é possível fazer um bom vinho a partir de uvas de má qualidade. Pude ver vinhedos cuidados com capricho, limpos, com condução correta e produção por hectare bem controlada.

No dia seguinte, bem cedo, agora na companhia do enólogo Adriano Miolo, acompanhei ao acaso a recepção de lotes de Cabernet Sauvignon produzidos por produtores independentes que chegavam à cantina. Também uvas impecáveis, passadas ainda pela triagem da esteira rolante antes de serem esmagadas. Parece-me que é possível implantar um alto padrão de exigência com relação à matéria prima quando se acredita no que se faz.

A degustação de muitos desses vinhos, novíssimos, recém-fermentados, retirados das pipas, nos apontam para um belo futuro já nas garrafas e nas mesas dos consumidores. Brancos com maturidade e acidez equilibradas, tintos com extraordinária concentração de cor, muita fruta, encorpados. Chamou-me a atenção o alto nível dos vinhos da Campanha, da linha Quinta do Seival e Fortaleza do Seival. Realmente muito bons. Foram também os grandes destaques da degustação do dia anterior, na qual entraram vinhos de anos anteriores, mas ainda fora do mercado, onde devem chegar nos próximos meses. Destaque para o Fortaleza do Seival Tempranillo 2004, Quinta do Seival Cast