Degustadores Sem Fronteiras | BORDEAUX SAFRA 2004, UM REENCONTRO COM A ELEGÂNCIA
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BORDEAUX SAFRA 2004, UM REENCONTRO COM A ELEGÂNCIA

16 ago 2004, Posted by degustadoresfronte in Notícias e Artigos

Ao contrário do que aconteceu em 2002 e, principalmente, em 2003, a safra bordalesa de 2004 teve um alto rendimento, mas nem por isso os vinhos deixaram de ser muito bons. 2003 foi extremamente atípico não só em Bordeaux, mas em toda a Europa, invadida por uma tórrida onda de calor que fez os termômetros ultrapassarem senegalescos 40° C de temperatura.
Tais condições geraram em Bordeaux, no ano de 2003, uma produção bastante reduzida, para a qual também colaborou o baixo índice de chuvas. Os vinhos saíram bons, mas muito mais encorpados e potentes, fugindo do perfil característico da região, que tem na elegância a sua marca registrada.
Já a colheita de 2004 foi fruto de outras circunstâncias: o ano foi mais frio e úmido, a safra, mais generosa em quantidade. O inverno foi rigoroso e seco, com pouca chuva entre janeiro e junho (25% abaixo do normal). Junho foi bem quente, possibilitando uma ótima floração, mas o verão foi cinzento e chuvoso.
A insolação foi baixa em julho e agosto, fazendo com que as uvas não amadurecessem o suficiente, mas o fato foi compensado pelo intenso calor da primeira quinzena de setembro. Esperou-se então até o dia 15 desse mês para se iniciar a colheita.Com base nessa uva mais diluída e de menor maturidade, o que se perdeu em potência e concentração, se ganhou em frescor e elegância. Os vinhateiros bordaleses com os quais conversei falam de uma safra “néoclassique”, marcada pela austeridade. No entanto, a safra não teve a mesma homogeneidade da safra de 2003. Tal desigualdade na qualidade dos vinhos pede que o consumidor esteja mais atento na seleção de suas compras. No que se refere aos tintos, a qualidade correspondeu à hierarquia das classificações, com os Premiers Crus dando as cartas.
Em recente visita que fiz a Bordeaux (final do mês de maio de 2005) pude provar alguns desses vinhos ainda em seu estágio em barrica, e confirmar as declarações dos experts da região. No aristocrático Château Malleret, Cru Bourgeois Supérieur do Haut Médoc, o sr. Jean-Pierre Mourges, diretor da empresa, nos ofereceu para degustar os vinhos das duas safras, 2003 e 2004, ambos ainda em barrica, o primeiro – evidentemente – mais pronto e redondo que o segundo. Ficou evidente a diferença de perfil das duas colheitas, embora tivessem o mesmo nível de qualidade.

Já em Pauillac, na belíssima propriedade do Château Pichon Longueville Comtesse de Lalande, Deuxième Grand Cru Classé , após degustarmos ao lado da carismática Madame Eliane de Lencquesaing, proprietária do Château, um magnífico 1998, fui chamado ao lado por seu sobrinho Gildas d’ Ollone. Estava ele com um jornalista inglês e quis que eu provasse, sem nenhum alarde, seu vinho da safra 2004, não conseguindo esconder o orgulho que tinha por ele. Apesar de toda sua juventude, podia-se perceber sua acidez correta e sua bela estrutura, um vinho de longa guarda que deverá envelhecer nobremente.
Também os brancos secos de Bordeaux, dizem os especialistas, ganharam muito com as condições climáticas, a uva Sauvignon Blanc tendo sido bem mais beneficiada do que a Semillon. Os vinhos deverão ser muito finos, refrescantes e muito aromáticos, lembrando os da safra de 2001. Segundo a revista La Revue du Vin de France do mês de junho, que traz uma grande reportagem sobre a safra, o millésime não foi apenas razoável para os brancos doces (Sauternes e Barsac), incluído aí o lendário Château d’ Yquem.

São, portanto, bastante boas as notícias para aqueles que apreciam os vinhos de Bordeaux, e também os vinhos franceses de um modo geral, já que a colheita foi de bom nível em suas principais regiões. Agora é aguardar que esses vinhos cheguem ao mercado com preços mais camaradas do que os de safras anteriores, já que a produção foi significativamente maior.

AGUINALDO ZÁCKIA ALBERT

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