A
CERVEJA E O VINHO
AGUINALDO ZÁCKIA ALBERT
Ao contrário do que vem ocorrendo com o vinho nos últimos
anos, muito pouca informação tem circulado a respeito
da cerveja. Para a maioria das pessoas – principalmente no Brasil
-- as cervejas são todas iguais, e isso não é bem
verdade.
Quem
expressou esse conceito de forma mais singela foi, sem dúvida
alguma -- um ex-presidente daquele clube de futebol que vem a ser o
principal rival de meu time, o Palmeiras. O simpático e folclórico
Vicente Mateus – que Deus o tenha – quando queria tomar
uma cerveja pedia logo “ uma Brahma da Antártica”.
Quem diria que o sr. Mateus tinha também dotes de visionário,
já que em nossos dias as duas arqui-rivais de então se
fundiram na mesma empresa, a AMBEV...
Tal
fusão só fez aumentar o mesmismo dos produtos oferecidos
ao consumidor em nosso país. Sempre houve entre nós uma
concentração enorme na produção de um só
tipo de cerveja, as Lager, de baixa fermentação, leves
e pouco encorpadas, em detrimento das Ale, mais encorpadas, complexas
e com maior riqueza de aromas e sabores.
Não
que nossa cerveja seja ruim. Longe disso. Além do mais a sua
característica de leveza e frescor tem muito a ver com nosso
clima tropical. No entanto, mesmo dentro do universo das lager, havia,
em outros tempos, mais diversidade de características em nossas
“loiras” do que agora, depois das grandes fusões
dos grupos produtores.
Embora
não seja uma bebida que tenha o glamour do vinho, ela tem também
uma longa história. Bebida fermentada, feita a partir da cevada,
do lúpulo e de outros cereais, seu nome origina-se do termo latino
servisia e tem uma história muitas vezes milenar, mais antiga
do que a do próprio vinho. Assim como este, sua história
se confunde com a do próprio homem civilizado, tendo aparecido
pela primeira vez , de forma documentada, há 5 000 anos, junto
aos sumérios, povo que inventou a escrita.
Essa
civilização ,que floresceu na Mesopotâmia, nos legou
os primeiros traços da existência da cerveja. Vários
tabletes de argila fazem menção à existência
de uma bebida fermentada feita a base de grãos, chamada sikaru.
Dois mil anos mais tarde, na mesma região, os babilônios
aprimorarão a sua elaboração, e regularão
o seu consumo e venda em dois artigos do código de Hamurabi.
As conquistas guerreiras dos babilônios fez a cerveja ganhar o
mundo. Palestina, Egito (tido até há alguns anos, erroneamente,
como seu berço; na verdade os egípcios aprimoraram bastante
a sua elaboração), depois Grécia, Roma e toda a
Europa.
Do
outro lado do mundo, perto da atual Dinamarca, por volta de 1 500 A.C.–
portanto ainda na Idade do Bronze –, surgiu um outro núcleo
de invenção de uma bebida fermentada feita a partir de
cereais e mel. Assim, a cerveja ganhou todo o Ocidente.
Nada
supera o vinho em termos de riqueza de aromas e sabores, de elegância
e fineza, isso sem falar da riqueza cultural que o envolve. No entanto,
quem já degustou uma Chimay belga, cerveja produzida artesanalmente
por monjes trapistas, de alta fermentação, ou mesmo a
irlandesa Guiness Stout, escura, bastante lupulizada, com acidez frutada
e seca, deve concordar que há muita coisa interessante no mundo
da cerveja.
Para
o leitor amante do vinho (mas também da degustação)
achei interessante citar o paralelismo que o conceituado expert em cervejas
inglês Michael Jackson (nada a ver com o estranho cantor pop,
por favor) menciona em seu Michael Jackson’s Beer Companion. Diz
o seguinte:
“ GUIA DA CERVEJA PARA OS AMANTES DO VINHO
Você é amante do vinho, mas ocasionalmente toma uma cerveja.
De acordo com o vinho que você prefere, eis aqui a cerveja de
que você poderia gostar. Não tem o mesmo sabor que o vinho
(afinal, você queria uma cerveja), mas estará de acordo
com seu paladar.
Branco
seco – uma autêntica pilsen lupulizada
Gewürztraminer – uma lager estilo Viena, picante, ou uma
lager mais escura tipo Munique
Champagne – uma cerveja de trigo
Blush Zinfandel ou Champagne Rosé – uma cerveja de framboesas
Cabernet Sauvignon – uma ale frutada estilo inglês, ou uma
IPA (India Pale Ale) americana de carvalho
Pinot Noir – uma ale escocesa ou belga
Jerez Fino – uma lambic
Amontillado - uma porter ou uma stout seca
Porto –uma ale trappiste escura com um certo tempo de envelhecimento
na garrafa”
Checar estas afirmações pode se tornar um exercício
bastante prazeroso nesses dias de temperaturas senegalesas que enfrentamos.
O que vocês acham?