O
CENÁRIO DO MERCADO NORTE-AMERICANO DE VINHOS IMPORTADOS
AGUINALDO
ZÁCKIA ALBERT
Recente artigo do New York Times, assinado por Frank J. Prial, nos mostra
um panorama muito interessante do gigantesco mercado consumidor de vinho
dos EUA, onde importantes mudanças têm ocorrido nos últimos
tempos. Como já era de se esperar, os vinhos franceses estão
enfrentando tempos extremamente difíceis por aquelas plagas..
A principal causa é, sem dúvida, a oposição
de Chirac à invasão do Iraque. Mesmo que não se
descubra o tão falado “arsenal de armas químicas
e de destruição em massa” que serviu de pretexto
para a guerra, o vinho francês vem sofrendo um forte boicote de
cerca de 30% dos consumidores ianques
Na
verdade, a situação já não era boa, tendo
apenas se agravado recentemente. O complicado sistema de leitura de
rótulos francês (com ênfase na região e não
na uva), a forte queda do dólar frente ao euro (19% no último
ano) e a forte concorrência dos bons vinhos do Novo Mundo só
fizeram piorar as coisas. Como conseqüência os vinhos gauleses,
que detinham 30% do mercado americano em 1992, hoje dominam apenas 18,4%.
Uma queda, sem dúvida, extremamente dramática.
De
acordo com relatório publicado em abril de 2003 pela revista
norte-americana Impact, especializada em comércio internacional,
das 10 marcas de vinhos importadas pelos EUA apenas uma era francesa.
E a situação deve ter piorado, pois os dados se referem
ao ano de 2002. Esta marca era a Georges Duboeuf, importante nome do
Beaujolais e também grande produtor de vinhos de baixo custo
na região do Languedoc-Roussillon. Mesmo assim Duboeuf caiu,
pois era o sexto em 2001 e hoje é apenas o oitavo.
Vale
a pena dar uma olhada na lista dos 10 mais. Em primeiro lugar a chilena
CONCHA Y TORO, com o expressivo número de 2,1 milhões
da caixas, seguida da italiana RIUNITE que, além de seus Lambruscos
exporta também vinhos simples e extremamente frutados com nomes
sugestivos como Peach Chardonnay ou Strawberry White Merlot. Outro italiano
vem em terceiro, a CAVIT, que tem em seu Pinot Grigio seu carro chefe,
uma uva, aliás, que vem abocanhando um bom espaço da Chardonnay.
Dois australianos surgem em quarto e quinto postos, a ROSEMOUNT e a
LINDEMAN’S, representando um país que teve forte aumento
em suas exportações.
Comandando
o segundo bloco, em sexto lugar, mais uma empresa australiana, a CASELLA,
que produz seus vinhos na nova região emergente de Southeastern
Austrália. Seus vinhos são vendidos com o rótulo
Yellow Tail. São varietais elaborados com as uvas Chardonnay,
Cabernet Sauvignon, Merlot e Shiraz, todos de bons preços. A
italiana BOLLA aparece em sétimo posto, seguido pelo já
citado GEORGES DUBOEUF, em oitavo.
Os
dois últimos classificados na lista dos 10 mais são vinícolas
italianas de capital americano. BELLA SERA e ECCO DOMANI, ambas pertencentes
ao gigantesco grupo E&J GALLO, maior produtor de vinhos do mundo.
As duas empresas somadas mandam para os EUA cerca de 2 milhões
de caixas de vinho, com destaque para o Pinot Grigio, além dos
vinhos Merlot, Cabernet Sauvignon, Sangiovese e Chianti.
Vale
notar que a grande maioria dos vinhos da lista está na faixa
de preço situada abaixo da linha dos U$ 10,00. São vinhos
dirigidos ao grande público consumidor e que apresentam boa relação
qualidade-preço. A perspectiva para 2003 é que italianos
e australianos disputem o primeiro lugar com os chilenos, podendo mesmo
ultrapassá-los. Além disso, há uma forte migração
dos consumidores de vinhos da casta francesa Chardonnay para a italiana
Pinot Grigio. Será mais um sinal dos tempos?
Publicado
na revista VINHO MAGAZINE # 44 – Agosto/2003