A CARMENÈRE E O CHILE

AGUINALDO ZÁCKIA ALBERT


Depois de muitos anos de forte preponderância das chamadas “cepas globalizadas”, aquelas variedades (geralmente francesas) que caíram no gosto dos consumidores e se impuseram mundo afora, algumas castas esquecidas começam ter o seu revival. O caso mais típico é a da Malbec argentina, uma mera coadjuvante na sua Bordeaux natal, que se tornou a grande estrela da vitivinicultura mendocina, devido à sua alta qualidade. O mesmo ocorre com a Albariño espanhola e a Tannat , também francesa, agora adaptada às terras uruguaias, que começam a se destacar nos mercados mundiais.


De todas elas, a Carmenère é a que tem a história mais curiosa, tendo sido identificada no Chile há apenas 10 anos pelo ampelógrafo francês Jean-Michel Boursiquot. Trazida da França em fins do século XIX, quando a filoxera devastava os vinhedos de Bordeaux, foi plantada no Chile e passou um longo período em total obscuridade, confundida que foi com um clone da Merlot. Quando se descobriu a forma de se evitar a filoxera através da enxertia, iniciou-se o replantio dos vinhedos franceses, mas a Carmenère não voltou a ocupar seu espaço, tendo sido descartada por ser uma variedade muito sujeita à coulure , moléstia que ataca os bagos das uvas logo que começam a florescer, causando sua queda e diminuindo dramaticamente a produção. É evidente que, após o desastre da filoxera, os vinhateiros não quisessem correr nenhum risco, o que explica as minúsculas parcelas de áreas plantadas com esta variedade na Bordeaux de hoje.


Apesar de amadurecer bem mais tarde do que a Merlot, os vinhos com ela elaborados foram sempre tidos e vendidos como Merlots, até que testes de DNA comprovassem definitivamente sua verdadeira natureza. Tal fato proporcionou ao Chile um belo trunfo mercadológico, sendo hoje o único país a poder ostentar o nome Carmenère em seus rótulos.


Seus vinhos, quando elaborados com a uva bem madura e com competência, são muito escuros e bem encorpados, e têm textura macia. Sua acidez é baixa, sendo muitas vezes corrigida com o acréscimo de ácido tartárico. Os aromas vão da fruta vermelha de pequenos bagos ao chocolate e ao café. As pessoas se perguntam se ela pode representar para o Chile o que a Malbec representa para a Argentina. Sinceramente, acho que seria um exagero. Pessoalmente ainda prefiro os Cabernet Sauvignon e Merlot chilenos, embora tenha provado alguns Carmenère muito bons. Entretanto, não podemos negligenciar sua importância, basta que se compare o incrível aumento de sua área plantio, que ocorre principalmente nos vales do Rapel e do Maule. Os 95 hectares de 1995 são hoje 5 407 hectares!

O renomado “Guia de Vinos de Chile”, edição de 2003, traz um ranking dos mais representativos vinhos chilenos, pontuandos com de um a quatro copinhos. Talvez fosse do interesse do leitor conhecer aqueles que mais se destacaram em suas faixas de preço, obtendo 3 copinhos ou 3 copinhos com destaque , notas máximas conseguidas pelos vinhos da cepa. Os preços estão expressos em dólares.

 

 

Preço abaixo de U$ 3,75 – DOÑA DOMINGA 2001 (Viña Casa Silva) (3); PALO ALTO 2000 (Viña Francisco de Aguirre) (3 com destaque); PIONERO 2002 (Viña Morandé) (3 com destaque).

Entre U$ 3,75 e U$ 6,00 – CLASSIC 2001 (Viña Casa Silva) (3); CARMENÈRE RESERVE 2001 (Viña Porta) (3 c/ d); 35 SUR 2001 (Viña San Pedro) (3 c/ d).

Entre U$ 6,00 e U$ 9,00 – CARMENÈRE RESERVE 2001 (Viña Calina) (3 c/ d); PRIMA RESERVA 2001 (Viña De Martino) (3 c/ d); LEGADO DE ARMIDA 2001 (Viña Santa Inês) (3 c/ d); LAURA HARTWIG 2001 (Viña Santa Laura) (3); CARMENÈRE RESERVA 2001 (Viña Terranoble) (3); NIEBLA 2001 (Viña Vistamar) (3 c/ d).

De U$ 9,00 a U$ 12,00 – GRAN RESERVA 2001 (Viña J. Bouchon) (3 c/ d); ORZADA 2001 (Viña Odfjell) (3); CARMENERE RESERVA 2001 (Viña Santa Ema) (3 c/ d); HERENCIA RESERVA 2000 (Viña Tarrapacá) (3)

De U$ 12,00 a U$15,00 – ARBOLEDA 2000 (Viña Caliterra) (3); GRAN CUVÉE 2000 (Viña William Fèvre) (3).

Entre U$15,00 e U$ 22,50 – TERRUNYO 2000 (Viña Concha Y Toro) (3 c/ d); RESERVA “1865” 2000 (Viña San Pedro) (3 )